sexta-feira, 21 de setembro de 2012

Não sou, nem nunca fui, grande defensor da violência como meio para resolver seja o que for. Não acredito que traga qualquer espécie de estabilidade tratar ao estalo e ao pontapé. Prefiro apontar ao bom senso, e à capacidade que todos temos de percebe a vontade dos outros e de, com humildade, agirmos em conformidade com ela. Todos procuramos o bem comum, e deve ser isso que nos guia.

Por isso, vi com imenso agrado e respeito a manifestação pacífica do passado sábado. Centenas de milhares de pessoas nas ruas de todo o país foi impressionante, e um sinal claro que algo está errado, pois a mobilização para greves e manifestações nunca foi tão numerosa (no meu tempo de vida e na minha curta memória, pelo menos). Uma manifestação pacífica, excluindo aqueles desacatos parvos na Assembleia da República, completamente desnecessários, já que a manifestação nem estava marcada para ali.

Para hoje, 6f, está marcada uma nova manifestação pacífica, espero eu, à porta da residência do Presidente da República, que reúne o Conselho de Estado. A ideia é marcar uma posição e pressionar os decisores políticos a voltarem atrás com uma decisão que foi errada, está a ser criticada pelos que vão sofrer com ela e pelos que vão beneficiar com ela, e que pode colocar em causa todos os sacrifícios até agora realizados. Com tantos ventos contra, não mudar a sua decisão, e apenas adocicá-la com ligeiras nuances, é sinal de orgulho barato, do qual não nos podemos dar ao luxo agora de ter. Os tempos são difíceis, não apenas porque os nossos governantes o dizem, mas porque ouvimos, ou ouço eu, cada vez mais perto, o espectro do desemprego e das dificuldades financeiras a pairar. Amigos que ficam no desemprego, amigos que deixam de pagar certas contas, ou fazer certas coisas porque o dinheiro começa a faltar. As pessoas deixaram de poupar para um eventual imprevisto no futuro, para começarem a poupar para as contas da semana seguinte, e isto é assustador de pensar e observar. Angustia-me que as pessoas sobrevivam, em vez de viver, mas haveria um raio de esperança, de luz ao fundo do túnel, por percebermos que é uma fase difícil, mas necessária para daqui a uns tempos estarmos melhor.

No entanto, o anúncio das últimas medidas trouxe um desânimo e um desespero que não é positivo nem nunca foi visto desde que se iniciou este processo de austeridade. As pessoas queixavam-se e tal, mas compreendiam que era preciso pagar o que devíamos, e estavam dispostas ao sacrifício. Estavam, porque muitas deixaram de estar dispostas a quaisquer sacrifícios por causa dos últimos anúncios e das mensagens FB do Pedro, coisa ridícula nunca antes vista (o Sr. PM n tem acessores que o aconselhem?)

Acho que estamos a chegar ao último dos recursos. Estas manifestações pacíficas são das últimas formas racionais que temos para mostrar a nossa vontade e a nossa fome de justiça. Mudar as políticas, em virtude do estado do país, não seria sinal de fraqueza, seria sinal de racionalidade, humildade e sentido de Estado. Já chega de beneficiar o amigo, e de evitar reformas que colocam em causa poisos de gente importante. Aqueles que não são importantes estão a ficar sem saída, e temo o que possa acontecer se, depois desta demonstração clara de posição por parte do povo eleitor, os governantes enfiarem a cabeça na areia e continuarem a fazer exatamente a mesma coisa.

Hoje vou a Belém, porque acho que é o meu lugar. Espero ver muita gente, no mesmo espírito do sábado passado, e espero que no final do Conselho de Estado e nos próximos dias, se assistam a mudanças claras no rumo escolhido para nos tirar da crise. É que não sei muito bem que mais podemos fazer para vincar a nossa posição, e temo o que alguns se lembrem de fazer...

Ficam algumas imagens da manif do dia 15, na esperança que inspirem as pessoas para hoje.

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