quinta-feira, 29 de dezembro de 2011

Com o fim do ano, toda a gente faz balanços. Desde as lojas, que fecham para inventário, até às pessoas, que olham para o ano que passou e procuram perceber o que correu bem, menos bem e mal. Este ano, ao olhar para trás, apercebi-me de uma coisa importante: no sábado passado, dia 24, fez 5 anos que regressei de missão. Uma data redonda, a justificar uma reflexão também cuidada sobre o impacto que esse tempo de missão teve na minha vida.

A avaliação, não sendo surpreendente, é significativa: estar em missão modificou praticamente toda a minha vida! :) A única exceção foram os escuteiros, aos quais pertencia e nos quais me mantive com o mesmo gosto e dedicação. Em termos profissionais, ambas as minhas profissões estão relacionadas com Moçambique: trabalho na Família Cristã porque fui um dia entrevistado pela chefe de redação da revista, devido ao meu tempo em Moçambique, e ela trouxe o meu CV para cá e fui aceite como colaborador e, depois, como jornalista a tempo inteiro; ganhei em Moçambique a paixão pela fotografia, que me levou a iniciar hoje o meu pequeno negócio de fotografia, que está a crescer devagarinho, mas de forma sustentada. Portanto, tudo o que faço em termos profissionais, faço-o por causa do tempo que estive em Moçambique.

Em termos pessoais, a grande alteração que noto foi a descoberta do prazer que é viajar, descobrir outras culturas. Antes de Moçambique, estava convencido que nada era melhor que o nosso cantinho. Depois de Moçambique, descobri que, de facto, sabe muito bem o nosso cantinho... para regressar depois de conhecer outros cantinhos espalhados pelo mundo! O mundo é a minha casa, e eu quero descobrir esta minha casa, o máximo que possa e o orçamento permita. É por isso que agora concorro a concursos malucos, ou me candidato a trabalhos pontuais do outro lado do mundo. Quero ser, na verdadeira aceção da palavra, um "Cidadão do Mundo", como BP queria que todos os escuteiros fossem.

Por tudo isto e muito mais, parte do que sou hoje devo-o ao meu tempo em Moçambique, do qual me lembro várias vezes com uma nitidez impressionante (as fotos ajudam, e muito), mesmo que algumas das lembranças sejam dolorosas.

O primeiro nascer do sol de 2011


Mas tudo isto para falar do ano que passou. Uau, e que ano. O dia 1 foi, provavelmente, o dia mais perfeito de todo o ano. Acordei no meio do deserto para ir dar um passeio de balão de ar quente, e depois fui fazer mergulho num dos locais mais fantásticos do mundo para isso, o Mar Vermelho. Mas não foi só o primeiro dia que foi bom, foi todo o ano: apesar da crise e das dificuldades, consegui implementar o meu trabalho de fotógrafo a vários níveis, e estou a crescer de forma visível e sustentada nesta paixão que é a fotografia. Viajei, inovei no meu trabalho, fui integrado nos quadros da empresa, o patrão elogia o meu trabalho, pude experimentar coisas novas e fazer a cobertura de acontecimentos fenomenais, como foram as Jornadas Mundiais da Juventude em Madrid. Fiz sessões fotográficas, tirei cursos, fui elogiado pela aprendizagem e pela aplicação dos conhecimentos adquiridos, e o melhor de tudo é que vejo 2012 como um ano cheio de possibilidades. Entre projetos em mãos, possibilidades e sonhos, provavelmente um ano não chegará para concretizar tudo o que tenho em mente, e isto é, ao mesmo tempo, fantástico e assustador. Não estava habituado a viver a minha vida no limbo, cheio de incertezas, mas a noção de que estas incertezas se podem concretizar em projetos fantásticos deixa-me extasiado. Pode nenhum deles concretizar-se, é verdade, mas só o facto de existirem faz com que acredite que, se estes não surgirem, outros poderão surgir, e a vida será sempre muito mais interessante que a rotina diária casa-trabalho-casa...

Com tudo isto, perguntar-se-á quem teve a paciência de ler até ao fim: mas este tipo não vê que há coisas más? Sim, vejo... sei e compreendo hoje que preciso de mudar muita coisa em mim, primeiro, e depois no mundo. Conheço parte das minhas limitações, e sei que haverá mais para conhecer. Também conheço algumas das limitações desta sociedade em que vivemos, e sei que haverá muito coisa má para descobrir e viver ainda, e que muitas pessoas vivem vidas muito complicadas neste momento, vidas que não irão mudar radicalmente no próximo ano e que continuarão a ser complicadas. Mas, para 2012, não quero que sejam as coisas más a dirigir-me: quero olhar para as coisas boas e partir delas para melhorar as más, que não esqueço que existem. Acho que se formos mais positivos, sem sermos utópicos, o mundo poderá ser diferente. E eu quero que 2012 seja diferente para mim e para os que me rodeiam, para melhor, para muito melhor...

Obrigado aos amigos por estarem por perto (mesmo quando eu sou chato e peço todos os dias que votem em mim ;) ), e aos leitores deste blogue, que aqui vêm há tanto tempo ler o que tenho para partilhar (já passaram os 17 mil...). Desejo um 2012 cheio de coisas boas, mas o que vos peço acima de tudo é que olham sempre o copo meio cheio, e que se esqueçam que está meio vazio...

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