quinta-feira, 24 de novembro de 2011

Ponto prévio: eu não fiz greve. Se trabalhasse no sector público, será que faria? Gosto de pensar que... não, pelo menos numa altura destas.

A greve é um direito que assiste ao trabalhador. Pretende dar-lhe a possibilidade de reivindicar melhores condições de trabalho, quando este acha que o patrão não está a fazer o melhor que pode para olhar pelos seus trabalhadores. Em teoria, todos o podemos fazer. Na prática, só os trabalhadores do Estado, aqueles que nos últimos anos mais beneficiaram de melhores condições de trabalho, o fazem na maior parte das vezes.

Acho que uma greve de um dia prejudica mais do que beneficia. Não em termos económicos, porque aquelas contas dos não sei quantos milhões por cada dia de greve nada me dizem: prejudicam porque aqueles que não querem fazer greve são obrigados a fazê-la ou a aguentar horas a fio em filas intermináveis de automóveis (se não tiverem, como eu tenho, uma alternativa de uma empresa privada de transportes). Mais do que isso, uma greve destas num momento destes é completamente inconsequente: o acordo assinado com a troika obriga a estes cortes e a estas reduções, e não há nada que se possa fazer quanto a isso. Portanto, fazer greve porque queremos os subsídios de volta não adianta, porque eles não vão voltar.

Que vamos perder esse dinheiro e passar a trabalhar mais 30 minutos por dias são dados assegurados. Se vamos perder mais dias parados e sem trabalhar por causa disso só vai agravar esse estado. O que temos de exigir é que as pessoas responsáveis por esta situação sejam chamadas à responsabilidade, julgadas e condenadas. Manifestem-se por isso, que contarão secalhar com o apoio de mais gente. O problema é que parte das pessoas que deveriam ser chamadas à responsabilidade até vão estar a manifestar-se. Não acreditam? Bom, então das pessoas que fazem greve, levantem a mão quantas aceitaram fazer empréstimos para a casa com valores acima do devido para comprarem umas férias, um carro novo ou uma Bimby. Já está? Ok, então agora levantem a mão as pessoas que pedem créditos por tudo e por nada (pusleiras, jóias, férias, carro, plasma para a sala...), e que usam novos créditos para pagar as dívidas dos antigos. Já está também? Agora, levantem todas aquelas que fogem aos impostos há anos, descontando sobre o salário mínimo e levando para casa 3 ou 4 vezes mais do que esse valor todos os meses. Para finalizar, levantem as mãos as pessoas que estão aí e recebem há anos indevidamente o subsídio de desemprego ou de inserção, porque não fazem um esforço por arranjar um emprego e acabar com essa mama? E pronto, parece que há muito pouquinha gente de braço em baixo. Os que levantaram o braço podem ir mas é trabalhar para ajudar a pagar a merda que fizeram, e as poucas pessoas que sobraram fiquem aí a manifestar-se, porque de facto não têm culpa nenhuma do que se está a passar. É fácil, e correcto também, pôr-se a culpa no sistema financeiro, nos bancos e em quem ganhou muito dinheiro à custa de emprestar o que não deveria ter emprestado. Mas não esqueçamos que o banco não apontava uma pistola à cabeça das pessoas, foi uma decisão pessoal e individual contrair os empréstimos desmesurados que nos colocaram hoje nesta posição...



Por tudo isto, vale a pena protestar e por isso eu até considerava ir para a rua, mas não num dia de trabalho. Este cartaz que encontrei no Facebook (crédito à 9 The Creative Shop) que deveríamos manifestar-nos, mas ao Sábado, e assim manifestar-nos pelo aumento da produtividade. No meu tempo de faculdade, quando queríamos protestar contra a falta de condições da faculdade, fazíamos uma greve de zelo: em vez de faltarmos todos, ninguém faltava. As salas ficavam tão cheias que os professores tinham de cancelar a aula. Existem várias formas de protesto, mas a originalidade e a seriedade são coisas que parecem escapar às centrais sindicais. Ontem eu ouvia na rádio um responsável sindical a dizer que "é normal que haja confrontos entre os piquetes e as pessoas que querem ir trabalhar", para na frase seguinte dizer que "é completamente sem sentido o presidente da empresa (neste caso, a Carris) escrever uma carta apelando a que se respeite a vontade de cada um de não fazer greve, porque nós respeitamos a vontade de todos (acrescento eu, de todos os que querem fazer greve, não dos outros...)". É normal que se obrigue quem quer trabalhar a fazer greve? Mas somos livres de fazer greve, e não somos livres de não fazer? Portanto, somos livres de ter opinião, desde que seja a opinião que se pretende? Que raio de democracia esta...

Por tudo isto, eu aceito o direito à greve, e tenho-o como essencial. Hoje, nestas condições, não concordo com ela. E acho muito mal que quem não concorde seja obrigado a fazer greve...

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