terça-feira, 4 de outubro de 2011

Eu que até sou um tipo que gosta de ter opinião sobre tudo aquilo em que penso, vejo-me muitas vezes obrigado a estar calado, pois a minha falta de experiência em determinadas áreas pode condicionar aquilo que são as minhas ideias sobre essas matérias.

No entanto, estas declarações de Dilma Rousseff há uns dias atrás vieram confirmar aquilo que sempre pensei em relação à crise e à forma de sair dela. O Brasil é um dos países que, apesar da crise, consegue ter a sua situação estabilizada ou em crescimento. Dilma, que é presidente há pouco tempo mas é apoiante de Lula da Silva, o grande obreiro do Brasil dos últimos anos, tem, por isso, crédito suficiente para poder ser ouvida nestas matérias. Segundo ela, medidas como aumento de impostos e despedimentos ou "reformas" estruturais que conduzam a despedimentos nunca poderão ser solução, já que fazem as pessoas perder poder de compra.

Concordo plenamente com a shôra presidente do Brasil. É importante perceber que o tipo de sociedade que temos foi impulsionada por toda uma história, com o apogeu no período pós-Revolução Industrial, que foi baseada no pressuposto do progresso que, por sua vez, trouxe à baila as máquinas, que, em muitos casos, substituíram a força de trabalho humana, já que desempenhavam a mesma função com custos muito menores.

Esta diminuição drástica da necessidade de trabalhadores humanos nos sectores primário e secundário da nossa economia levou a que o sector terciário, da prestação de serviços, tivesse um boom exponencial nos últimos séculos. À falta de melhor opção, todos se viraram para a prestação de serviços, o que levou à construção da sociedade "consumista", como tantas vezes é caracterizada, que temos hoje em dia. Na nossa sociedade, é impossível sobreviver sem a prestação de serviços, uma vez que não há trabalho disponível para tanta gente nos outros sectores da economia, e isto é um facto inegável.

Com o aparecimento da crise, as medidas de austeridade que se tomaram para combatê-la foram exactamente no sentido contrário da evolução da própria sociedade. Hoje em dia, vivendo nesta sociedade consumista, consumir é uma necessidade. Só consumindo serviços prestados por outros conseguimos dar a esses outros um vencimento que lhes permita sobreviverem. Portanto, toda a e qualquer medida tomada no sentido de retirar capacidade financeira à população vai conduzir a uma retracção no consumo principalmente dos serviços que contratávamos a outros. Eu preciso de comer e de beber, mas não preciso que alguém me passe a roupa a ferro ou me limpe o pó. Logo, abdico desse serviço, levando a que essa pessoa não possa ter o seu meio de subsistência e, como tal, fique desempregada e perca a sua capacidade para adquirir ela própria outros produtos de outros prestadores de serviços. Como a produção alimentar funciona bem é com poucos empregados e muitas máquinas, estes desempregados deixam de ter possibilidade de ter um meio de subsistência, e entre tudo em colapso, uns atrás dos outros.

Na questão da reforma do poder local, debatida ontem na RTP1, o problema é o mesmo: vamos reformar, diminuindo o número de freguesias, para se poupar dinheiro. Então e aquelas pessoas todas que vão ser despedidas? O que lhes vai acontecer? Vêm para a rua viver do subsídio de desemprego? É que se as pessoas têm cada vez menos capacidade financeira para adquirir serviços, pior vai ser se aumentarmos o número de pessoas que, para se safarem, precisam de prestar serviços.

Podemos sempre afirmar que a máquina do Estado é má, e que te de ser expurgada de muitos demónios que por lá andam. Concordo, mas esta expurgação deve ser feita com cabeça, tronco e membros, e de uma forma que permita controlar a despesa, sem colocar em causa postos de trabalho. Há trabalho a menos para as pessoas num certo departamento? É mudá-las para outro onde estejam atarefados até ao pescoço e fica o problema resolvido.

Não podemos pensar que o futuro se ganha aumentando os impostos, pois esse é um paliativo, nada mais. Este aumento de impostos agora pode levar a um crescimento do desemprego que leva, nesse caso, a uma diminuição da receita fiscal, em virtude do aumento do número de desempregados, o que vai obrigar o Estado a aumentar mais a carga fiscal, promovendo mais desemprego e uma círculo vicioso que não vai acabar em nada de bem.

Mas qual é, então, a solução?

Antes de mais, políticos sérios, que é o mais difícil de conseguirmos. Os políticos agem no seu próprio interesse e raras vezes no interesse verdadeiro do cidadão, e assim é claro que é mais fácil aumentar a carga fiscal do que resolver os problema com as empresas municipais e os amiguinhos que ganham à grande e à francesa à custa destas políticas.

Depois, é preciso estimular a economia, dando-lhe condições para que se ponha em pé de novo. Os patrões precisam de entender que em tempos de crise têm de se contentar em ganhar menos (continuando sempre a dar lucro), e os empregados têm de se convencer que só nos safamos disto se dermos o litro no nosso trabalho. E isso será estimulado se os empregados virem que, com o seu esforço, aumenta também o seu vencimento e o seu poder de compra, que lhe vai permitir voltar a adquirir serviços, dando o emprego de volta aos prestadores de serviços que tinham perdido a possibilidade de prestar esses serviços, relançando de vez a economia para o caminho correcto. É preciso entendermos que o tempo das vacas gordas já passou, e que foi por causa desse tempo que nos habituámos a um estilo de vida que nunca deveríamos ter tido, já que nunca produzimos para isso e nos limitámos a comprar a crédito, adiando um problema que agora não tem outra hipótese de adiamento.

Temos de resolver isto aqui e agora, e para isso precisamos de gente empenhada. Se os políticos nem sempre ajudam, com os seus aumentos de cargas fiscais e diminuição de rendimentos, teremos de ser nós a dar o exemplo. Mãos à obra!












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