Já repararam que cada vez mais vivendas, à nossa volta, têm
chapas a cobrir toda a altura dos muros, tornando-se impossível olhar lá para
dentro? A argumentação óbvia, a da privacidade, colherá por certo muitos
adeptos, mas a mim entristece-me e é mais uma prova do isolamento e do egoísmo
que grassa na nossa sociedade. O sentimento de vizinhança já estava ferido nos
prédios de tantos andares, onde apenas nos cruzamos com o vizinho no elevador e
rezamos a todos os santinhos para que ele não nos diga nada, mas fica ferido de
morte com esta atitude dos donos das vivendas, que se isolam do mundo, “que não
tem nada a ver com a nossa vida”, dirão. Sim, não tem, e sim, de facto pode
haver situações chatas de mirones a cuscar o que estamos a fazer no nosso
jardim.
No entanto, essas chapas, além de serem muito feias e
estragarem a vista, contribuem para um cada vez maior isolamento. Se eu viver
ao lado de um tipo que mandou pôr chapas de ferro à volta do muro todo de modo
a que eu, que sou vizinho, não o consiga ver, eu também, se precisar de “um
raminho de salsa”, como se diz por aí, não vou ter a tendência de recorrer ao
vizinho, pois a ideia que dá é que ele quer estar isolado. Isto cria um ciclo
triste que acabará por afastar os vizinhos uns dos outros, contribuindo para o
maior isolamento e frieza de todos nós em sociedade.
É uma pena que, apesar dos avisos e das teorias bonitas como
o Dia dos Vizinhos, se continue a caminhar para esta realidade isolada,
principalmente se tivermos em conta que muitas famílias vêm viver para locais
distantes das suas referências familiares e os vizinhos poderiam servir de
apoio entre si, criando novas redes de amizade, quase familiares. No entanto,
enquanto continuarmos a colocar muros altos a toda a nossa volta, isso não vai
acontecer…
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