quinta-feira, 17 de fevereiro de 2011


Fui ontem ao Politeama ver a peça Um Violino no Telhado, do La Féria. Tenho de dizer que vim de lá, mais uma vez, impressionado. Ir ao teatro é algo que me agrada sobremaneira, e é por culpa própria que não vou mais vezes. Aos espectáculos do La Féria não, porque os preços são altíssimos, e só dá para ir poucas vezes, mas há muita produção independente de qualidade, onde na maior parte das vezes até nem pagas entrada.

Impressiona-me, desde logo, o facto de estarmos a ver arte ao vivo e a cores. Os filmes no cinema são fantásticos, mas ir ao teatro tem outro sabor. Num cinema já me aconteceu, uma vez ou outra, apetecer-me bater palmas no final do filme. Mas é raro. No teatro, levantei-me e aplaudi de pé as actuações de todas as vezes que fui ver estas grandes obras. Actores que cantam, dançam, falam e actuam em directo (houve ali uns coros que pareciam feedback, mas pouquinhos...) merecem um crédito diferente dos que o fazem apenas uma vez, gravam e tá distribuído em todo o mundo. Não melhor nem pior, apenas diferente.

No caso desta peça, o protagonista, José Raposo, esteve fantástico, ao seu mais alto nível. Na mesma peça, conseguimos rir e quase chorar com Tevye, este pobre leiteiro, pai de 5 filhas que insistem, muito por culpa da educação do próprio pai, que por exemplo queria que elas soubessem ler num tempo em que isso estava vedado às mulheres, em contrariar as tradições estabelecidas na pequena aldeia russa de Anatevka. Um homem que está consciente das suas tradições e as preza, mas que ao mesmo tempo ama as suas filhas e compreende a sua necessidade de mudarem a vida que levam. A peça aborda toda a problemática histórica daquela altura na Rússia, com a dispersão dos judeus pelo mundo, e o romper de muitas das tradições consideradas essenciais para a identificação judia naquele tempo. A música inicial reforça a tónica na "Tradição", termo que vai aparecendo nos diálogos cantados durante toda a peça, mas sempre com intensidade menor. Não se fala de repúdio aos valores tradicionais, mas aborda-se a transformação ocorrida naquela pequena aldeia, que pode representar grande parte do mundo judaico daquela altura.

A peça é muito bem interpretada por todos os actores em palco, até pelas pequenas filhas do leiteiro, meninas de, arrisco, 7 e 12 anos, que se comportam sem falhas no palco. Não sou grande crítico de teatro, mas deixei-me envolver pela história contada ao ponto de não querer que acabasse o espectáculo, que mesmo assim durou 2 horas. As filhas do leiteiro são muito capazes vocalmente, fora alguns gritinhos mais estridentes nas notas mais altas da apaixonada do revolucionário de Kiev (que não sei o nome), e dão outro colorido à peça, que fica bastante bem composta em termos de vozes.

A evolução técnica trouxe uma "ajuda" aos actores: agora todos usam microfone, e a sua voz, alta ou baixa, sai ao nível que se pretende. Quando fui ver a Casa do Lago, com o Ruy de Carvalho e a Eunice Muñoz, não havia cá dessas coisas, e isso sentia-se na voz dos actores que os acompanhavam. Agora não , todos têm uma voz super bem colocada e no volume certo. Enfim, modernices que, na minha modesta opinião, acabam por retirar algum brilhantismo aos actores em palco.

Não me encheu as medidas como o Jesus Cristo Superstar, mas também admito que é uma comparação injusta para esta pequena peça, pelo que recomendo vivamente que vão assistir. Se puderem pagar, claro está, porque os bilhetes bons são entre os 20 e os 35 euros, preços bastante puxaditos...

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