terça-feira, 18 de janeiro de 2011


A política é, para mim, uma área que dispenso, mas sem a qual não posso, nem podemos, viver. Não gosto de política, principalmente porque as pessoas que lá estão me fizeram criar este sentimento de repulsa. De cada vez que vêm umas eleições, procuro informar-me sobre os candidatos e as suas propostas e acabo invariavelmente desiludido com todo o processo. Ansiamos por uma mudança e verificamos, várias vezes, que esta nunca chega. Mudam as pessoas, mas nem por isso muda o estilo de governação.

Hoje de manhã, ao entrar no comboio, recebi um panfleto da candidatura do Francisco Lopes, o candidato apoiado pelo PCP às presidenciais. Interessado, recebi o panfleto das mãos do voluntário que mo entregava com um sorriso e um bom dia e procurei ler o que é que este candidato tinha de diferente dos outros. Li, virei para o outro lado, continuei a ler e não encontrei, em lado nenhum, qualquer proposta concreta ou reflexão devida sobre o Estado das coisas e, principalmente, a forma de o alterar, no ponto de vista deste candidato. Vi palavras de ordem - lutar contra a precariedade dos trabalhadores, os salários injustos, blá, blá blá, blá, tudo verdades de La Palisse partilhadas por todos os candidatos e por qualquer pessoa com dois dedos de testa. Nem uma palavra sobre o que tornava este candidato diferente dos outros, para minha tristeza. Subsidiamos nós uma campanha presidencial que deveria contribuir para esclarecer os cidadãos sobre as propostas dos candidatos a fim de que o voto fosse o mais informado possível. No entanto, o que os candidatos (todos, este foi apenas um exemplo) procuram é um rebanho que, sem questionar, siga os seus intentos e reaja às suas palavras de ordem.

Até o Fernando Nobre, que merecia, no início da corrida, o meu apoio, por ser alguém fora do círculo viciado do costume, me tem desiludido por ter alinhado com o jogo político dos outros. Fala vezes demais nos seus feitos pessoais passados, que são válidos mas que todos já conhecem, e critica de forma desnecessária as pessoas, não os candidatos. Alinhou com Manual  Alegre nas críticas ao Cavaco sobre a SLN, tornando a campanha num espaço de ataques pessoais e não de informação às populações. Nos últimos tem-se visto colocado de parte por uma grande parte da comunicação social, que só atribui importância aos candidatos do sistema, Cavaco e Alegre. Como muito bem sublinha o Pedro Correia no Albergue Espanhol, já há cinco anos atrás os jornalistas tentaram bipolarizar a campanha com Cavaco e Soares e depois foram obrigados a engolir o sapo alegre. Este ano, com Fernando Nobre, pode ser que lhes aconteça o mesmo.

Não sei se Nobre será o candidato ideal da mudança, nem creio que chegue de facto a ganhar. Mas será bom mostrar a todos que é possível alguém que vem "de fora" possa fazer mossa no status quo instalado. Só tenho pena é que ele próprio, e os outros candidatos, estejam mais preocupados em defender a honra e atacar a honra dos outros que em discutir os problemas de um país com a gasolina a tocar os máximos históricos de 2008, as pensões milionárias a acumularem riqueza para uns poucos e as parcerias público-privadas a acumularem despesas para todos os outros que as pagam com os seus impostos. Sei que o Presidente da República não tem poder para mudar tudo isto, mas tem poder para falar e colocar as questões importantes na praça pública para serem discutidas. E isso é o mínimo exigível...

PS -  O Presidente da República Cavaco Silva promulgou, há poucas semanas, o diploma que altera as formas de financiamento do ensino privado e cooperativo em Portugal, introduzindo cortes que poderão provocar o fecho de muitas escolas. Ontem, o candidato presidencial Cavaco Silva exortou os portugueses  a virem para a rua defender as suas escolas das injustiças. O senhor sofre de doença bipolar, ou anda a brincar à política com os portugueses?

1 comentário:

Anónimo disse...

Só um reparo. A gasolina não está a tocar os máximos de 2008. Já os ultrapassou. Os preços de hoje são máximos de sempre. Só que em 2008 o petroleo estava a $150 o barril e hoje ainda está a menos de $100.
Quando desta vez chegar aos $150 já isto fechou para obras. Mas atenção. as revoltas não são só na Grécia, na Irlanda, na Itália, em França e na Turquia. Cá, forçosamente, também irão acontecer! Só não se sabe ainda, quando!