segunda-feira, 24 de janeiro de 2011

Sem grande surpresa, Cavaco foi eleito. A campanha eleitoral foi uma vergonha, nenhum candidato elevou o discurso.

Da noite eleitoral, o resultado mais importante, a meu ver, foi o da abstenção e dos votos em branco. 53,7% do país recenseado não foi votar e 4% votou em branco, e poucos dirigentes partidários ou candidatos falaram sobre isto. As razões da abstenção são várias, e desde logo absurdas, em alguns casos: é impensável, num país europeu, que as pessoas tenham de estar horas numa fila para saber o seu número de eleitor. Muitas viram o seu número de eleitor alterado sem saber bem porquê (até agora, nenhuma comunicação social falou sobre isso) e não estiveram para estar horas numa fila para saber o número correcto. Se já há pouco entusiasmo com a política, estas dificuldades esmorecem o pouco ânimo de muitos. Parecia coisa de país de terceiro mundo...

A Comissão Nacional de Eleições prometeu investigar o assunto. Podemos esperar inquéritos vastos que, como sempre, não vão conduzir a resultados práticos nenhuns. Houve incompetência por parte de quem manda, tão simples quanto isto. Em Viana do Castelo, numa freguesia, o presidente da junta é um iluminado e criou equipas de apoio aos votantes em número suficiente para tratar de todos os problemas, e a votação decorreu sem incidentes. Para as próximas eleições, dêem-lhe a ele o ónus de preparar as coisas no país todo, pode ser que assim funcionem...

Os votos em branco não contam para nada, assim como a abstenção. Ainda assim, qual é a justificação para dar as percentagens dos votos partindo do princípio que os 100% são os que votaram? 100% é o universo dos recenseados, e nessa contagem Cavaco Silva não passou dos 25%, enquanto que a abstenção ultrapassou os 53,7%. Portanto, é errado dizer que a abstenção igualou Cavaco Silva, porque se parte de bases diferentes. Se contarmos com a base de todos os recenseados para fazer as contas, então tudo se torna mais claro. Cavaco obtém 25% dos votos, Manuel Alegre fica-se pelos 10%, Fernando Nobre pelos 7,5% e por aí abaixo. Este seria um retrato bastante mais fiel da realidade, e seria muito mais difícil escamotear o facto de que a esmagadora maioria do país está desiludido com esta forma de fazer política.

Infelizmente, nada disto é levado em conta nem pelos candidatos, nem pelos jornalistas que cobrem as eleições, ou os opinadores que ouvimos e lemos, pois é sempre melhor esquecer que há tantos descontentes...

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