terça-feira, 23 de novembro de 2010

No fim-de-semana passado, a televisão foi inundada com a notícia de que a Igreja já aprovava o preservativo. Após uma notícia destas, muitos foram os que vieram a terreiro congratular o Papa e falar em revolução na Igreja, e outros os que vieram criticar por ser tão tarde a abordagem. Houve ainda uma iluminada de uma ONG francesa que, vi eu na RTP, disse que agora a Igreja já podia assumir que o combate à SIDA não vai lá com abstinência e compromisso...

Poucos foram os que, no entanto, se preocuparam em conhecer as reais declarações de Bento XVI, mais uma vez. Monsenhor Feytor Pinto, responsável pela Pastoral da Saúde em Portugal, referiu à RTP que isto não era uma revolução, e que o próprio Cardeal Ratzinger, em 1994, já tinha afirmado isto mesmo.

E afinal, o que é que Bento XVI afirmou? Bom, na verdade limitou-se a assumir publicamente aquilo que a Igreja já fez e sempre fez. "A mera fixação no preservativo significa uma banalização da sexualidade, e é precisamente esse o motivo perigoso pelo qual tantas pessoas já não encontram na sexualidade a expressão do seu amor, mas antes e apenas uma espécie de droga que administram a si próprias. (...) Pode haver casos pontuais, justificados, como por exemplo a utilização do preservativo por um prostituto, em que a utilização do preservativo possa ser um primeiro passo para a moralização, uma primeira parcela de responsabilidade para voltar a desenvolver a consciência de que nem tudo é permitido e que não se pode fazer tudo o que se quer. Não é, contudo, a forma apropriada para controlar o mal causado pela infecção por HIV. Essa tem, realmente, de residir na humanização da sexualidade".

É óbvio que a Igreja não condena, nem pode condenar,  o uso do preservativo como forma de prevenção da SIDA. E é óbvio principalmente porque, na prática, a Igreja é a primeira, em locais onde a necessidade é clara, a distribui-los. Exemplos? Em África, eu via a Igreja a distribuir preservativos e a dinamizar acções de formação onde o seu uso era incentivado e explicado. Em Portugal, as Irmãs que trabalham com as prostitutas no Intendente também o fazem, assumem-no claramente e são apoiadas pela hierarquia diocesana na sua acção.

A grande questão, que os que gostam de criticar tão facilmente a Igreja parecem querer ignorar, é que a Igreja não assume o preservativo como a solução para o problema. É um penso rápido, um paliativo que em nada vem contribuir para acabar com o problema da SIDA. Como se acaba com ele então? Observemos as palavras descritas por Bento XVI acima. É com uma proposta de um novo estilo de vida, é com a pregação da castidade, do compromisso, da monogamia, com a o fim da promiscuidade, dos múltiplos parceiros, dos opções de vida desregradas e sem rumo que acabam por, no fim, conduzir a desgraças como a SIDA ou a toxicodependência. Assim, a SIDA pode ter um fim e as pessoas podem melhorar a sua vida.


Portanto, e voltando ao início, o Papa limitou-se a assumir publicamente aquilo que a Igreja já faz há muito tempo. Não houve mudança de ideias, e muito menos houve mudança de posições ou cedência de princípios. Entendamos o que foi dito, e saibamos reconhecer, afinal de contas, que o trabalho que a Igreja faz neste campo é muito superior ao que é dito por aí...

De boa leitura é também o artigo da Inês Teotónio Pereira no Expresso. O título é estranho, mas o resto é muito bom. Para ler aqui.

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