sexta-feira, 21 de maio de 2010

A notícia de que 2 deputadas do PS querem reduzir o número de feriados no ano deixou-me bastante pensativo sobre a forma como olhamos para a nossa vida dentro desta sociedade que faz hoje o nosso quotidiano. Esta notícia trouxe-me à cabeça aquela pergunta que serve de título ao post: nos ultimos anos deixámos de trabalhar para viver e parece que vivemos para trabalhar.

D0s 365 dias do anos, 47 são, segundo as deputadas, no máximo dedicados a férias, feriados e pontes. Acho o número algo elevado porque pontes só estão garantidas na administração pública, as empresas privadas dependem da bondade dos patrões. Por isso, em rigor, além dos 25 dias de férias e dos 14 feriados, temos 52 fins-de-semana, que correspondem a 104 dias de descanso (pelo menos, em teoria). Ou seja, no total temos 143 dias de descanso (partindo do princípio que os feriados não calham em fins-de-semana) dos 365 dias que compõem o ano, o que significa que trabalhamos mais do que aquilo que descansamos.

A grande questão aqui é: porque é que trabalhamos? Inicialmente, cada pessoa trabalhava para garantir a sua subsistência, ou seja, trabalhava o suficiente para poder viver, era essa a sua intenção. Com o evoluir da história, as tarefas começaram a ficar divididas, e passámos a trabalhar para podermos ter dinheiro para vivermos a nossa vida, para fazermos as coisas que queremos. Nas últimas décadas, no entanto, ficámos tão obcecados com produtividade, crescimento e riqueza, que deixámos de colocar o nosso bem-estar, a nossa vida, em primeiro lugar, para colocarmos o trabalho e o dinheiro em primeiro lugar. Muitas vezes, já é a sociedade que nos obriga a isto, ao cobrar tão caro por serviços que toda a gente precisa, mas nem todos podem pagar. Todos nós contribuimos para a mudança de paradigma na sociedade: hoje, grande parte das pessoas vive para trabalhar, não trabalha para viver, e esse não é um modelo de vida com futuro sustentável, ou sequer agradável. Estamos a desperdiçar a nossa vida, trabalhando tanto e vivendo tão pouco. Por isso é que as relações sociais e familiares estão a desgraça que estão, por isso é que o relativismo que o Papa tanto fala está a tomar conta de tudo. Não há tempo para nos preocuparmos com nada, porque temos de trabalhar.

Deixo uma pequena história de alguma forma exemplificativa:
O homem rico encontrou um pescador numa pequena vila. Viu que o pescador era muito bom no seu trabalho, porque pescava sempre peixes grandes. O pescador pescava apenas o que precisava... e todos os dias ia almoçar a casa com a sua esposa e os seus filhos. Aos domingos não pescava para ficar a brincar com os seus filhos.
O homem rico perguntou ao pescador "porque é que não juntas dinheiro para comprar um barco maior? Porque é que não trabalhas um pouco mais?". "Porque é que preciso de trabalhar de mais", perguntou o pescador. O homem rico respondeu: "Assim poderias comprar outro barco e com o tempo ter uma frota de barcos com muitos funcionários e assim ficares rico. Podias comprar uma boa casa na cidade, e apenas tinhas que trabalhar mais para o conseguires." O pescador perguntou: "E depois, o que é que eu fazia?", e o homem rico disse-lhe: "Assim envelhecerias cheio de dinheiro, e nessa altura, daqui a uns anos, poderias passar mais tempo com a família, brincar com os netos, estar com a esposa, ir almoçar a casa...", tudo coisas que o pescador já fazia hoje, na sua vida simples.

Por vezes, temos tendência a complicar o que já existe. E tu, vives para trabalhar ou trabalhas para viver?

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