segunda-feira, 2 de novembro de 2009

Deparei-me há uns dias com um vídeo de humor de George Carlin, comediante americano, que afirmava que a religião era “bullshit”, ou uma treta, se preferirem. O vídeo é extremamente divertido, e no final dei por mim a pensar no que seria se, de facto, o senhor tivesse toda a razão e tudo isto da religião fosse uma treta. Não estamos aqui a individualizar religiões, estamos a falar da ausência de uma entidade criadora, seja lá ela quem for. Como se justificaria o mundo sem Deus?

Bom, comecei a pensar nisso e só consegui arranjar uma explicação: sem Deus, não seríamos mais do que… coincidências. Então, vejamos:
- Por coincidência, o Big Bang originou a criação de vários planetas e, num deles, criou condições para o aparecimento de células;
- Por coincidência, estas células juntaram-se e criaram organismos multicelulares;
- Por coincidência, estes organismos desenvolveram-se em animais que criaram todo um ecossistema e uma cadeia alimentar organizada, na qual uns serviam para alimentos de outros, permitindo assim um crescimento equilibrado e harmonioso;
- Por coincidência, apenas um desses animais desenvolveu capacidades motoras e cognitivas que lhe permitiram criar condições de desenvolvimento e crescimento como nenhum outro, no caso o macaco;
- Por coincidência, apenas alguns desses macacos, já que outros mantiveram-se quase inalteráveis;
- Por coincidência, esses macacos evoluíram para aquilo que hoje somos nós, seres possuidores de capacidades comunicativas e cognitivas únicas, que nos distinguem de todos os outros e nos permitem subir ao topo da cadeia alimentar, ainda que não tenhamos as capacidades físicas para o fazer;
- Por coincidência, as células presentes no nosso crânio interagem entre si, provocando choques e reacções a estímulos que nos permitem desenvolver um pensamento racional, lógico e construtivo, ao contrário dos restantes animais. Não podemos dizer que sentimos coisas, ou que temos uma alma, já que esses não são processos físicos, palpáveis, resultado de uma evolução, já que a alma não é algo de racional ou comprovável, isto é, não pode ser uma coincidência de factos, como tudo o que escrevi acima e direi abaixo;
- Por coincidência, criámos um conjunto de códigos e sons que nos permitem comunicar, assim como um conjunto de regras e atitudes que nos permitem viver em conjunto;
- Por coincidência, foram criados dois géneros de cada animal, que se reproduzem quando se estabelece contacto entre dois pontos específicos do corpo desses animais. No caso do homem, naquilo que vulgarmente designamos por sexo, que não é mais do que a simples noção de reprodução. Sentirmo-nos bem ou termos prazer na relação sexual não faz sentido, já que não é algo que seja facilmente mensurável ou considerado coincidência;

Partindo então do princípio que não somos mais do que uma coincidência do Universo, e que nada é anterior ou posterior ao Universo, pensarmos na razão de existirmos torna-se bastante redutor. Existimos por… coincidência, nada mais. Quando morrermos, nada mais nos resta, e nascemos porque por coincidência um homem e uma mulher se juntaram e desse processo há uma coincidência de factores físicos que se proporcionam na criação de uma outra vida humana.

Não considerar a existência de Deus, ou de uma entidade superior que nos criou, implica rejeitar tudo o que é espiritual, ou sentido, e isto significa rejeitar tudo o que sempre afirmámos ser o que nos distingue dos outros animais, que é a nossa capacidade de pensar e sentir. Se somos apenas coincidências, então pensarmos por nós próprios é uma impossibilidade, já que o que acontece na verdade é que, por coincidência, as células no nosso cérebro estão alinhadas de determinada forma e provocam que sejamos quem somos. Nós não temos influencia em quem somos, uma vez que somos apenas coincidências, criadas num mundo que não tem qualquer propósito, já que ele próprio é… uma coincidência.

É giro e engraçado afirmarmos que Deus não pode existir, porque existe muito mal no mundo e blá blá blá, mas procurem fazer o exercício contrário e procurar conceber um mundo sem Deus. A mim deixa-me ainda mais desanimado e sem alento, pois o mundo descrito parece-me muito mais terrível e sem sentido. Não concorda, senhor George Carlin?


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