quinta-feira, 22 de outubro de 2009

Todos passamos por fases menos boas na vida. Eu estou agora a sair de uma. Não passei por dificuldades extremas, nem nada que se pareça. No entanto, na primeira vez em que, na minha vida, me tentei safar sozinho, descobri que sou pobre e pertenço ao grande número de pessoas que não têm possibilidade de se auto-sustentarem com um emprego e precisam de várias actividades que acabam por lhes consumir o tempo que teriam para viver. Eu sou diferente dos outros porque tenho a felicidade de poder contar com os meus pais e de a pobreza se ter manifestado antes de eu contrair qualquer empréstimo ou dívida que me obrigasse a uma despesa maior que os meus proveitos. Por esta razão, cancelei a procura de casa, com muita pena minha.
Acima de tudo, ataca-me uma revolta interior: tenho Quase 30 anos, andei 17 anos a estudar, sou licenciado, e nem sequer ganho o suficiente para me conseguir sustentar, tendo de depender dos meus pais para isso. Se me quiser sustentar, tenho de fazer como muitos são obrigados: arranjar um segundo emprego que me obriga a uma maior carga horária de trabalho e a menos tempo livre para fazer aquilo que o trabalho e o salário deveriam permitir: VIVER!
Há quem me diga "é a vida, não podes fazer nada"... sem dúvida que é a vida, e sem dúvida que mais cedo ou mais tarde eu terei de fazer o mesmo que muitos, mas isso não me impede de me revoltar nem de me insurgir contra este modo de vida que nos obriga a sobreviver em vez de viver. É para isto que cá andamos? Para nos esfalfarmos a trabalhar para termos um cantinho para morar, sem grandes luxos, contando cada tostão no final de cada mês? Não merecemos nós uma outra vida, uma outra forma de estar, com mais qualidade? Não merecemos nós ordenados que sejam de acordo com o custo real de vida e com o mérito do nosso trabalho? Como é que podemos ficar satisfeitos quando temos um ordenado mínimo de 500 euros (no próximo ano apenas, caso os patrões não consigam impedir, senão ficamos abaixo) e um empréstimo bancário que nos leva 300, 400 euros por mês? Com o que sobra, como é que vivemos? Lá está, sobrevivemos apenas. Dir-me-ão que é assim que a vida é, e que não há nada que possamos fazer quanto a isso. Acredito que para certas pessoas, infelizmente, isso possa ser verdade. No entanto, recuso-me a acreditar que essa é a vida que me espera e que devo aceitá-la como inevitável. Recuso-me a acreditar que sobreviver seja o único modo de vida possível nesta sociedade. Com melhores salários, eu comprava mais coisas. Logo, os negociantes faziam mais dinheiro. Logo, cobriam o aumento das despesas que tinham tido com o aumento dos salários dos seus empregados. Pode parecer utopia, mas resignar-me a uma vida de continhas e desespero, ou de convivência com os pais até aos 50 anos, caso não arranje quem tenha paciência para me aturar e partilhar uma vida e as contas comigo, não me parece nada pelo qual valha a pena ansiar...
Senhores patrões e empregadores, hoje em dia ninguém quer guardar o dinheiro no banco, que não serve para nada. Todos o queremos gastar, e só não o fazemos porque não o temos. Melhores ordenados geram mais receitas que geram mais lucros (sem entrar em loucuras, claro), deixando toda a gente satisfeita num ciclo vicioso com um final feliz. Vá lá, pensem nisso um bocadinho, pode ser?

5 comentários:

Anónimo disse...

Força filho e muita fé.

Unknown disse...

lololol....tens uma certa piada.
aconselho-te a tornares-te patrão e veres as despesas que de facto dá ser patrão!!! lolol
como sabes eu não sou patrão, mas, assisto à demasiado tempo à luta contínua que o meu pai tem feito para manter a empresa só a trabalhar...quanto mais a subir os ordenados...lolol...que piadão...lol

Mas pronto...bom esforço pela ideia! lol

Sílvia disse...

mas o que aconteceu para teres desistido da procura de casa? *

Rui Ramos Tomás disse...

Mas afinal a ideia é comprares casa... ou é viveres de forma independente??
Porque não alugas?? Neste momento o mercado de arrendamento é uma grande opção para muitas pessoas. E não te prendes por 40 ou 50 anos.

Fica a ideia.

Um pai que não sabe o que faz disse...

O mercado de arrendamento é uma grande opção para pessoas com altos rendimentos... com o dinheiro que eu podia dar de empréstimo não há nenhuma casa a alugar, pelo menos que não esteja a cair de podre... :) o arrendamento é uma ilusão enquanto as rendas se mantiverem tão altas como estão...