quarta-feira, 2 de setembro de 2009

Foto de Nélson Garrido / Público
O terror dos incêndios passou nos últimos dias em directo em todas as televisões. Tanto na nossa realidade, como em Los Angeles ou na Grécia, aflige-me sempre ver aquelas pessoas que perdem tudo, que se vêem a braços com uma luta inglória contra um inimigo que não dá tréguas, não pára para comer ou descansar.
Admiro os bombeiros, sempre os admirei, pelo trabalho que fazem. Muitas vezes em número menor que o necessário, lutando com meios nem sempre ideais contra o fogo, que se alastra indiferente a quem atropela pelo caminho.

Sei que é provável que algumas pessoas que sofrem com o flagelo ignorem, na época molhada, os apelos lançados para limpar matas ou ordenar o território. É aliás um dos principais problemas que está subjacente a esta questão dos incêndios: com uma planificação florestal adequada, com a colocação de corta-fogos nas serras mais inacessíveis e com a limpeza das matas ao redor das casas, muitos destes problemas poderiam ser evitados ou, na pior das hipóteses, minimizados. Infelizmente, nem todos têm essa consciência, e muitas vezes falamos não de particulares, mas de empresas, ou mesmo câmaras municipais e juntas de freguesia que não cumprem com a sua obrigação de limpeza das matas em terrenos camarários.

Finalmente, há a questão criminal, que me deixa ainda mais baralhado. Ontem, ao regressar da natação, passei por um incêndio bem perto de minha casa. Os bombeiros já lá estavam e já nem se viam labaredas, mas o que é facto é que o incêndio tinha deflagrado num hora em que o sol já não incidia ali e onde a extensão de mata é muito pequena, sendo rodeada por muitas casas, cujos donos aflitos acorriam a ajudar os bombeiros. Para ajudar, este Verão já era a terceira vez que um incêndio deflagrava naquele bocado de pinhal que há ali. Ora seria coincidência demais que causas naturais tivessem provocado um incêndio 3 vezes no mesmo ano no mesmo local, especialmente se tivermos em conta que vivo numa zona sem os picos de calor que se vivem no interior do país. Fogo posto parece-me uma explicação bastante mais real.


“Confusiona-me” (expressão moçambicana) que haja pessoas que sejam capazes de colocar a casa e vida dos outros em risco, seja por negligência, interesses económicos ou malvadez pura, mas como infelizmente parece que o número destes “artistas” continua a crescer, a justiça devia ter aqui uma mão mais do que firme: anos e anos de pena, sem liberdade condicional, cumprida a reflorestar matas. Não é cumprir pena a coçar a micose dentro da cela, é pô-los nos terrenos que queimaram e nas casas que destruíram a reconstruir tudo, tijolo por tijolo, árvore por árvore. Querem apostar como estes “artistas” desapareciam?

O nosso engenheiro ontem disse que confiava na justiça em Portugal, mas hesitou a responder quando a Judite lhe perguntou se achava que o processo Freeport poderia ter andado mais depressa. Não disse o que queria, por certo, mas a hesitação foi suficiente para notar o descrédito, apesar das palavras bonitas que se seguiram. É pena, de facto…

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