sexta-feira, 6 de março de 2009

"A Igreja precisa dos jovens!"; "Os jovens estão afastados da Igreja", ouvimos muitas vezes as pessoas dizer. Quase sem pensarem muito no assunto, e muitas vezes como forma de se desculparem por trabalhos mais mal feitos ou mal conseguidos, ouvimos sempre que devem ser os jovens a assumir responsabilidades dentro da Igreja, substituindo aqueles cuja idade já não lhes permite grandes andanças, apesar do espírito de serviço se manter bem desperto.

Não discordo da afirmação, mas acho que peca por estar incompleta. Mais do que jovens, a Igreja precisa de adultos, daquela faixa etária de pessoas entre os 30 e os 50 anos de idade, que está na chamada idade activa. São essas as pessoas que precisam de se chegar à Igreja e de a ajudar a crescer e a fazer um trabalho melhor todos os dias. Vejo muitas dessas pessoas na minha paróquia, para falar apenas da realidade que conheço, a frequentarem a eucaristia dominical, fiéis ao compromisso da eucaristia, mas sem assumirem outro tipo de compromissos na paróquia. Esse é um compromisso importante, ok, mas não chega. S. Tiago afirma na sua epístola aquilo que Jesus pediu aos seus discípulos também, quando escreve "A fé sem obras está morta". E eu vejo essas pessoas todas que vão à missa e "cumprem o preceito" voltarem todas contentes para casa porque "fizeram a sua parte". Lamento dizê-lo, mas na minha opinião, que está fundamentada naquilo que Jesus pediu de nós, não o fizeram.


Ao serem confrontadas com pedidos de ajuda, muitos respondem com a vida atarefada, o horário excessivo de trabalho, os filhos para criar, os pais para cuidar, enfim, um sem número de razões. É claro que todas elas são reais e válidas. No entanto, não podemos pretender que a Igreja se eleve sozinha nos tempos de hoje, em que é tão necessária em tantos campos. Quem vai cuidar dos doentes que estão acamados e não têm família? Quem assiste as famílias que passam por dificuldades económicas e não têm o que comer? Quem cuida de educar as crianças, os adolescentes e os jovens na fé, através da catequese? Quem cuida para transformar as crianças de hoje em cidadãos capazes e responsáveis no futuro, através do escutismo? Quem assegura que os sem-abrigo da sua comunidade recebem a ajuda que a sua dignidade enquanto pessoas exige? Quem visita os presos, que precisam mais do que muitos de uma palavra amiga, de um aconselhamento? Quem visita os doentes nos hospitais e lhes leva palavras e gestos de ânimo e conforto? O sacerdote? Os leigos com mais de 60 e 70 anos, muitos com dificuldades físicas próprias? Os jovens, acabados de sair de uma formação e ainda muito novos para terem capacidade de gestão de algumas situações?


O mundo da Acção Social da Igreja, que Jesus Cristo iniciou quando ajudava as pessoas, é vasto e não se prende apenas com o cumprimento dos preceitos da Igreja. A Igreja precisa de se renovar, precisa de quem ajude os que lá estão a continuarem o seu trabalho. Mas a renovação não podem vir apenas dos jovens, que ou são muito imaturos para responder a certas solicitações, ou não são compreendidos pelos idosos que já lá estão há mais tempo e têm dificuldade em compreender a pedalada que muitos têm. Não podemos estar na igreja até que nos casamos e arranjamos um emprego, sair durante 20 anos e voltar depois que as nossas faculdades não servem para trabalhar, esperando aí fazer a diferença. A nossa dádiva à causa de Jesus Cristo não passa por ir à missa. Se quiserem, e somando tudo, essa é a parte que interessa menos. O que temos é de estar disponíveis para servir os outros que nos rodeiam e que precisam de nós. Isso sim, é ser Igreja. Isso sim é contribuir para a construção do Reino dos Céus aqui na terra.


Não podemos exigir ou esperar que a Igreja funcione sem nós, porque a Igreja somos nós!

2 comentários:

Anónimo disse...

A Igreja somos todos Nós!
Mon prophète! :)

Anónimo disse...

Um alerta muito apropriado. Muitas vezes deixamo-nos ficar com a ideia do dever cumprido e achamos que os outros devem fazer o resto.Claro que os jovens fazem muito, se não fazem mais talvez seja porque nós os adultos não lhes damos grandes exemplos.
Cada vez sinto mais orgulho por seres meu filho.