Foi de vez...

O dia que eu tanto temia chegou... não adianta pensar que O dia nunca chegará, pois sabemos que, mais cedo ou mais tarde, ele chega. O dia do sofrimento, o dia do vazio, o dia da solidão, o dia em que senti que nada mais é sagrado e que tudo o que amamos se pode evaporar assim, sem mais... custou chegar hoje a casa e olhar para o vazio. Sabia que era hoje o dia, mas dentro de mim não queria acreditar que ele finalmente tinha chegado. O dia mais esperado, aquele em que eu iria perder o meu companheiro de viagens, o meu parceiro inseparável de tantas lutas, tinha chegado... pois é, foi hoje que me levaram o Ferrari para abate. Aquele que durante 6 anos partilhou comigo as minhas aventuras e desventuras, levando-me fielmente para todo o lado, tinha finalmente começado a dar de si. Os anos não perdoam, e ele já levava 18, 6 dos quais vividos comigo. Lembro-me de muitas das coisas que lá fiz e um sentimento de nostalgia aflora-me o pensamento. É claro que também recordo as duas vezes que, no meio do trânsito para a ponte, fiquei agarrado a um capot que fumegava tanto que parecia que ia explodir, mas isso agora nada interessa. Prefiro recordar aquele que era a minha imagem de marca, vermelho pois claro, nas actividades de escuteiros, transportando tudo e todos para todo o lado, sem nunca se queixar, a dar bailinho a todos os carros da malta (sim, áqueles do mesmo segmento, claro, Boto, não aos outros... :) ), a fazer grandes viagens sem nunca se queixar: ACANAC em Santa Margarida, Algarve e Almograve, só para citar algumas.
Aquele que os meus pioneiros insistiam em guardar num sítio diferente de onde eu o tinha deixado (sim, pegavam-lhe ao colo, aquelas bestinhas... :) ) e que tantas boleias lhes deram para as suas actividades e reuniões. E sim, todos os momentos inenarráveis aqui, que tanta boa recordação me deixam...
É fácil criarmos uma tal habituação a algo que depois, no momento de a deixar, achamos que nunca mais teremos outra coisa igual. Passo o testemunho do Ferrari ao seu primo mais novo, mesmo modelo, já com todas as modernices incluidas: direcção assistida, tecto de abrir, 5 mudanças..., e espero que ele se torne tão habitual na minha vida como o outro o foi. Este será cinzento, não vermelho, e por isso peca, por ser tão igual onde o outro era tão diferente, mas pode ser que um dia lhe dê uma pintura.... em nome dos bons velhos tempos...

PS - Quem acabou de ler e não me conhece bem acha que ou sou maluco ou estou no gozo. Mas isso é quem não me conhece...