segunda-feira, 12 de maio de 2008

Há algum tempo que tinha pensado deixar de escrever coisas sobre futebol aqui no blogue. Continuo a ver assiduamente os jogos e a sofrer pelo meu Glorioso, mas as coisas no futebol português estão tão quinadas que me tiram toda a vontade de escrever sobre elas. E não, não acho que o Benfica seja o grande prejudicado e um coitadinho, acho que a coisa está má conjunturalmente, não contra algum clube em especial.
No entanto, não posso deixar de dedicar algumas linhas a Rui Costa. Desde logo, porque é dos poucos jogadores portugueses que sempre admirei desde criança e cuja carreira acompanhou o meu crescimento enquanto pessoa. Desde o Mundial de 1990 até hoje recordo na minha memória algumas das etapas mais marcantes desta carreira de tantos e bons anos de Rui Costa: o penalti no Estádio da Luz no Mundial de sub-20 e aquela corrida desenfreada após o golo, de alegria pura; o golaço no Estádio da Luz que nos deu o apuramento para o Euro 96, um chapéu fabuloso quase do meio-campo contra a Rep. da Irlanda (é inexplicável como é que no Youtube não há quase vídeos nenhuns deste golo fantástico); o choro após marcar o golo ao Benfica com a camisola da Fiorentina, num jogo a feijões (choro sentido, verdadeiro, daqueles que não engana); o respeito e a admiração que recolheu tanto na Fiorentina como no Milan (este um clube de jogadores fantásticos, que mesmo assim não se esqueceu de homenagear o seu maestro de uma forma especial quando o SLB lá jogou esta temporada); as afirmações de Kaká que sempre assumiu que Rui Costa foi um dos principais responsáveis pelo seu crescimento e pela sua evolução enquanto jogador (sim, o mesmo Kaká que foi o melhor jogador do mundo em 2007); o sentimento de entrega ao clube que sempre teve (no Benfica e na Fiorentina saiu porque o clube precisava de dinheiro, e escolheu sempre a opção que melhor servia o clube, não a ele próprio, no Milan percebeu quando era altura de ser titular e quando era altura de ajudar o clube ficando no banco e criando condições para que Kaká evoluísse); o respeito que granjeou entre todos os adeptos de futebol, sejam de que clube forem; a sobriedade, a humildade e a discrição que sempre teve em toda a sua vida pessoal (assim como Figo, que são verdadeiros exemplos para os mais novos neste aspecto tão importante da vida de um futebolista); e tantas outras marcas que quem teve a sorte de privar com ele com certeza poderia apontar.
Tenho a certeza que não ganhou o título de melhor do mundo porque esteve muitos anos na Fiorentina, um clube de menor dimensão, pois por aquilo que fez no Milan já com 29, 30 anos mostra que isso seria uma realidade.
Agora o desafio é outro: como director desportivo, tem de conseguir construir uma equipa quase do zero (construir não significa contratar uma equipa nova), blindar um balneário que está muito frágil, encontrar um treinador com quem consiga trabalhar e afastar um presidente de funções para as quais ele nada percebe e nas quais parece gostar muito de se imiscuir, remetendo-o para aquilo que ele tem demonstrado saber fazer bem, que é pôr o clube a funcionar. O mundo do futebol português está viciado, envolto numa série de confusões. A única alternativa que eu vejo a isto é a entrada de novos dirigentes, antigo jogadores que compreendam o jogo e tenham a cabeça suficiente para o saberem credibilizar e dar estabilidade. Rui Costa é um dos primeiros a fazê-lo a nível administrativo com um cargo de importância, pois nos últimos tempos a maioria tem perferido a opção treinador. Por tudo o que fez na sua carreira, o Rui merece toda a margem de manobra para fazer o melhor pelo clube e pelo futebol português. Esperemos, para o bem de todos, que o consiga fazer e assim se inicie um momento de viragem no futebol português.

1 comentário:

Sílvia disse...

"O mundo do futebol português está viciado, envolto numa série de confusões. A única alternativa que eu vejo a isto é a entrada de novos dirigentes, antigo jogadores que compreendam o jogo e tenham a cabeça suficiente para o saberem credibilizar e dar estabilidade."

Isto faz-me lembrar uma série de conversas passadas, sobre o 467 ;)