domingo, 6 de maio de 2018

Celebramos hoje o Dia da Mãe, e passam dois meses desde que partiste. Já por várias vezes pensei que tinha de me sentar e escrever algo, como sempre me entusiasmaste a fazer, mas ou era muito fresco, ou mais difícil, mas hoje achei que tinha de ser, porque são praticamente dois meses desde que partiste e é o Dia da Mãe. Por isso, este texto é sobre ti e para ti, minha querida Mãe, que nos continuas a acompanhar, agora aí do Alto, olhando por nós e intercedendo junto d'Ele para que tenhamos uma vida como sempre nos ensinaste...


Todas as mães deviam ser exemplos para os seus filhos. Ensinar-lhes os valores, prepará-los para a vida adulta, e acompanhar. Tudo isto tenho a agradecer à minha mãe, que há dois meses partiu para o Pai. Não gosto da palavra morrer, pois transmite-nos um sentimento de fim, de algo que acaba, quando na verdade não é nisso em que acredito. A D. Aida partiu para o Pai, está lá em cima, onde quer que isso seja, junto de Deus, sentada, estou certo, à sua direita, a conversar como sempre gostou de fazer, a mandar os seus bitaites, e sobretudo a Amar.

Tenho a certeza que olha por nós, e que está muito melhor lá do que ficaria aqui. Também tenho a certeza que fez bem o seu papel enquanto aqui esteve, e nos deixou instruções claras sobre como procedermos para termos uma vida próxima daquela que ela teve. Hoje, no Evangelho, Jesus diz aos seus discípulos que "ninguém tem maior amor do que aquele que dá a vida pelos amigos". A vida da minha mãe, pelo menos os 38 anos que me foram dados a testemunhar e acompanhar, foram repletos de amor pelo próximo. E maior prova disso foi a enormidade de gente que apareceu para se despedir dela. Gente tão diferente, que ela tocou ao longo da sua vida, com a sua simplicidade e a sua entrega. Eu observava, embevecido, a quantidade e diversidade de gente que entrava naquela igreja, e só pensava como isto era bonito.

A minha mãe não era uma mulher de grande teologia. Mal percebia o porquê de muitas coisas, e várias foram as nossas conversas, em que ela me perguntava tudo o que não sabia, porque era curiosa, e eu procurava responder o melhor que sabia e podia. Mas era uma mulher rica na teologia do Amor, aquela que é mais importante que todos os textos bíblicos ou ensaios teológicos. Amava todos: o sem abrigo que durante anos alimentou, vestiu e acompanhou à porta do seu trabalho, sem desanimar quando ele desaparecia, ou lhe respondia mal, ou perdia tudo o que ela lhe tinha dado; os mais pobres da sua paróquia, que acompanhou durante estes últimos anos, com uma dedicação extrema; as amigas que acompanhava ao hospital no seu carro, ou que visitava para deixar uma simples palavra amiga. Quando lhe perguntava, nos últimos tempos, por esta ou aquela pessoa, ela ficava triste porque não tinha ido falar, ou porque há muito que não lhes prestava atenção. Ela, que estava doente, cansada e com dificuldades sequer em passar do sofá para a cama, andava preocupada que os outros, que estavam fisicamente bem melhores que ela, pudessem estar a precisar de uma palavra amiga ou de uma visita...

Uma das lições de maior valor que aprendi dos meus pais foi esta dádiva ao próximo. Sempre foi uma valor que ambos comungaram, e que ainda hoje trago no meu coração. Para o meu pai e para a minha mãe, nunca houve ninguém que ficasse sem ajuda. Mesmo quando eram os outros que se afastavam, eles nunca deixaram de ajudar fosse quem fosse, e eu admiro isso imenso. O gosto que tinham por ter uma casa cheia é algo que sempre me marcou a mim e a todos os meus amigos. As nossas festas de aniversário, o "acontecimento social mais relevante da Charneca de Caparica", como gostávamos de dizer a brincar nessa altura, eram de tal forma animadas e marcantes que, ainda hoje, todos os nossos amigos dessa altura, mais próximos ou mais afastados, se recordam delas. Fosse até que hora fosse, porque depois era o meu pai quem levava toda a gente a casa. Não tenho como lhes agradecer este exemplo de amizade, a não ser fazer exatamente o mesmo com a minha família, como procuro fazer já hoje. Grande parte dos meus amigos têm uma ligação muito forte com os meus pais, uma proximidade originada precisamente por esse convívio, e isso é muito bonito.

Há dias, recebi um convite que me marcou muito. Aliás, tanto, que nem sequer lhes consegui transmitir isso ao receber o convite, e fiquei sem palavras, o que não acontece muitas vezes. Convidaram-me para um casamento, porque, diziam, "foram vocês quem nos acompanhou quando éramos mais novos. Levavam-nos para todo o lado, estavam connosco, eram quase como nossos pais". A minha emoção naquele momento foi mais forte também porque me lembrei da minha mãe, que, lá em cima, aposto que estava a sorrir enquanto eu ficava sem palavras para agradecer um gesto tão bonito e marcante...

No dia do funeral, um amigo enviou-me uma mensagem onde dizia "força e coragem para seguir em frente, tendo a certeza que, onde quer que esteja, está sempre orgulhosa de vocês, essa é a imagem que trago comigo de a ver sempre cheia de orgulho quando vos via nas atividades". Enquanto as lágrimas ainda me correm pela face (há quem diga que sou um lamechas, mas são boatos ;) ), a verdade é que sempre sentimos este orgulho de mãe em nós, eu e a minha irmã. Um orgulho que nos ajuda a enfrentar os tempos difíceis, quando a saudade aperta, ou quando sentimos falta daquela voz que nos questionava sobre tudo e nos obrigava a pensar o porquê de agirmos de uma forma ou de outra.

Um orgulho que também me ajuda a descansar, sabendo que partiu segura de nos ver orientados na vida da forma que ela achava melhor que estivéssemos. Sei que estamos no caminho que ela desejava, pois estamos felizes, e sei que ela continua a olhar por nós. Já não a temos por perto fisicamente, mas a sua presença faz-se notar em mim, pois sei que sou o reflexo da sua educação e da sua vida, e sei que carrego o peso da responsabilidade de a continuar a deixar orgulhosa. Um peso que carrego com alegria, e é por isso que rezo para que nunca me afaste do caminho em que ela insistia em manter-me.

Obrigado, Mãe, que sempre alinhaste em quase todas as maluqueiras de que me lembrava :)


São poucas as fotos de família que temos, porque em casa de ferreiro, espeto de pau. Mas esta é das que mais gosto :)


















1 comentário:

Urso Seguro disse...

Verdadeiramente um exemplo de Amor sem olhar a recompensas ou julgamentos.
Sou uma pessoa mais feliz e um pouco do que sou a ela o devo.
Apesar da minha "frieza" neste campo da distância da vida terrena nas minhas palavras ou acções, o meu sentido obrigado esta no meu coração e sei que ela la de cima continua a olhar por nos com o mesmo Amor.