sexta-feira, 15 de abril de 2011

Estou preocupado com o nosso país. Muitos analistas diziam que a partir de Março deste ano é que a crise se ia realmente fazer sentir, e tinham razão. Todos os dias ouço dizer que há alguém que é despedido, ou alguém que passa dificuldades. Não na televisão, que acaba por falar apenas de alguns casos isolados, mas nas conversas de café, ou à mesa ao jantar. O dinheiro começa a escassear, e por isso as pessoas começam a gastar menos. Gastando menos, este nosso país, que depende imenso do consumo, devido à sua especialização em actividades do sector terciário nos últimos anos, sofre e começa a quebrar. Se o consumo começa a quebrar, os negócios começam a quebrar, e isso origina mais despedimentos, e mais pessoas sem dinheiro para gastar, que vão provocar mais despedimentos e mais negócios que fecham, num ciclo vicioso que é imperativo impedir.

Não duvido que temos capacidade para sobreviver à crise e sair dela ainda mais fortes. Não duvido que os portugueses sejam um povo trabalhador, que quer o melhor para si mesmo, ainda que nos acusem de sermos preguiçosos, em comparação com os povos frios do Norte da Europa. Nem duvido, aliás, que existam os meios e os recursos que necessitamos para voltar a incrementar o consumo e dinamizar a indústria, sector tão esquecido nos últimos anos. Então, o que falta?

Culpar os políticos de tudo é fácil e rápido. Não há medidas governativas que nos ajudem a sair da crise, e portanto como estamos neste buraco por causa deles e da sua incompetência, eles que se mexam para nos tirar daqui que nós ficamos à espera. Não podemos pensar assim, e temos de agir por nós próprios. Há grande culpa da classe política, é certo. São uma cambada de interesseiros que não se preocupam com mais nada a não ser o seu próprio umbigo. Acedendo a que hajam honrosas excepções, a maioria dos políticos tem sido assim. Tachos, reformas vitalícias, todas as comodidades possíveis e imaginárias, nenhuma vontade de olhar para o país e de ajudar, de facto, a resolver a sua situação, caso isso implique perder mordomias e benefícios. Manuela Ferreira Leite dizia, há uns meses, que suspender 6 meses a democracia era a chave para limpar isto tudo. Concordo plenamente com a formulação teórica da proposta, apesar de saber, tal como ela sabia, que tal seria impossível de acontecer. Mas o essencial do pensamento é correcto: é preciso expurgar os políticos que não se comportam como devem, representantes de um povo que os elegeu para que pudessem ser, de facto, os seus representantes e agirem no interesse de quem representavam. E temos essa possibilidade já no próximo dia 5 de Junho. É importante estarmos atentos à campanha eleitoral e irmos votar em consciência. Se nada nos agradar, votamos em branco. Uma votação massiva em branco poderá ser o sinal de que algo precisa de mudar neste país. Abstermo-nos de votar é errado, mas votar em branco é dizer “eu quero votar, eu venho aqui exercer o meu direito, mas não me identifico com nenhum de vocês. Por isso, saiam daí que quero ser representado por outras pessoas”. Só assim poderemos sair desta crise na parte política.

Mas a culpa não é toda dos políticos. Nenhum político obrigou os portugueses a consumirem mais do que a sua carteira permitia para satisfazer luxos fúteis como férias, viagens ou sapatos de um qualquer estilista famoso, nenhuma política incentivou a que toda a gente se encostasse à mama do subsídio de desemprego ou do RSI. Falta fiscalização, dirão alguns, mas a fiscalização só falta porque as pessoas não são sérias. Fossemos todos sérios, e não seria necessária a fiscalização para impedir que as pessoas se aproveitem dos subsídios para não fazerem a ponta de um corno. Temos de saber ser solidários, não só na comida que angariamos no Banco Alimentar, mas também nas atitudes que temos em todo o nosso quotidiano, pois são essas que marcam a capacidade do país se desenvolver.

Comecei por dizer que estou preocupado, mas acabo a dizer que estou confiante. Sei que temos a capacidade de dar a volta a isto. Precisamos de políticos sérios, políticas adequadas, e pessoas honestas e cheias de vontade de trabalhar. Tenhamos isto à disposição e o futuro será, sem dúvida, melhor. O que não podemos é ficar sentados à espera que sejam os outros a resolver os problemas que, até agora, fomos incapazes de resolver. Mãos à obra, malta!

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