terça-feira, 22 de fevereiro de 2011

O CNE é católico, srs bispos, e faz voluntariado... :)

A recente Nota Pastoral da Conferência Episcopal Portuguesa (CEP) sobre o Voluntariado e a nova Consciência Social elenca uma série de organismos que, mais ligados ou menos ligados à igreja, promovem acções de voluntariado. Catequeses, bombeiros, Cáritas, sociedade filarmónicas e centros culturais, tudo serve para realçar o papel do voluntariado na promoção da sociedade. No entanto, não há, em todo o documento, uma só linha a falar sobre aquele que é, de longe, o maior movimento associativo e voluntário de Portugal: o Escutismo. Não há outro movimento como o escutismo em Portugal, e no entanto este foi "esquecido" pelos bispos na sua Nota Pastoral. Dir-se-á logo que obviamente que os bispos sabem o que é o escutismo e que ele está lá, englobado nas considerações gerais, e que não era possível referir todos os movimentos da Igreja, mas o facto é que a CEP resolveu exemplificar alguns, e portanto é justo questionarmo-nos sobre o lugar que o escutismo ocupa na mente dos nossos bispos. É que, se observarmos as áreas de voluntariado citadas pela CEP, o escutismo tem intervenção não em uma, mas em todas elas:

- "O voluntariado agregado a movimentos e obras sociais": quantos escuteiros não fazem animação de lares de terceira idade, não dormem nos lares à noite, não se dedicam a apoiar instituições de solidariedade?

- "O voluntariado na resposta a situações de pessoas sós que necessitam de visita e companhia": há grupos de escuteiros que fazem visitações, pontuais ou regulares, a pessoas sozinhas.

- "O voluntariado na educação": bom, aqui, não resta grande dúvida, nem será preciso dizer grande coisa. Somos o maior movimento de educação não-formal do país.

- "O voluntariado ao serviço da evangelização": o Escutismo Católico Português assume na sua identidade a vertente evangélica da sua acção. É certo que muitos dos agrupamento "fogem" a esta responsabilidade, mas não restam que tem de ser uma preocupação de todos os escuteiros, e é uma preocupação clara da Chefia Nacional.

- "O voluntariado missionário": até nesta área há grupos, principalmente de caminheiros, que dinamizam acções pontausi de voluntariado missionário em países de expressão portuguesa e não só.

- "O voluntariado na dimensão cultural": os grupos de escuteiros dinamizam actividades culturais tais como festas tradicionais, concertos, e ainda dinamiza activiaddes de conservação do património em várias zonas do país.

- "O voluntariado de socorro de emergência": a Protecção Civil é um dos departamento presentes na maioria dos agrupamentos no país, e ainda há pouco tempo foi possível ver a ajuda preciosa que os escuteiros da Madeira deram no período que se seguiu às cheias, nas limpezas e apoio à equipas de socorro.

- "O voluntariado no campo ecológico": a defesa do ambiente é uma das nossas bandeiras, presente em todas as actividades que são planeadas.

- "O voluntariado dos direitos humanos": uma temática que está também presente na nossa acção, nas nossas reflexões de grupo e até em algumas das nossas actividades.

Há quem ache que a falta do CNE nas referências da CEP não é importante, e eu concordo que os bispos, como é óbvio, sabem que o escutismo e desempenha um papel na Igreja em Portugal e o mundo. No entanto, não posso deixar de ficar triste pela omissão do CNE da lista tão extensa, que incluiu até entidades fora do âmbito da Igreja. Acho que é algo que deve fazer pensar todos os que fazem parte do processo, seja o clero sejam os próprios dirigentes do CNE. Há necessidade clara de aproximar o movimento do pensamento dos nossos bispos que, com tantas áreas de intervenção diferentes, em nenhum se lembraram de incluir o escutismo. Pelos vistos, não somos referência em nenhuma área, e isso não é muito positivo...

PS - Mas não são só os nossos bispos que andam distraídos. No lançamento do Ano Europeu do Voluntariado, foram mostrados dois vídeos, um europeu e outro português, e em nenhum vem sequer um plano de escuteiros, entre dezenas de planos com voluntários. Anda tudo distraído, pelos vistos, e acho que a omissão é tudo menos justa. O Escutismo é uma escola de vida, um projecto de educação assente em voluntários pensada por um senhor que, a ser vivo, faria hoje 154 anos, que teve uma visão que só hoje a escola formal começa a tentar imitar... sem grande sucesso, diga-se.

O seu a quem de direito, e o Escutismo merece muito mais referências que aquelas que lhe estão a ser dadas, num ano em que merece, como muitas outras instituições, o reconhecimento do seu papel na construção de um mundo e de uma sociedade mais justa.

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