quarta-feira, 22 de dezembro de 2010

(Retirado do blogue terraguarabira.blogspot.com)

Em 2006, os nossos políticos comprometeram-se a aumentar o irrisório salário mínimo nacional para os 500€ até 2011. Tudo correu bem, até chegar a crise, o bicho papão que destrói empresas e obriga os pobres patrões a reduzirem salários para conseguirem manter os seus rendimentos milionários. Agora, parece, o aumento com qual todos se comprometeram não vai acontecer, ou vai acontecer mais devagar ainda. Aguardamos a fantástica reunião da Concertação Social de hoje para saber.

Enquanto eles reúnem, eu deixo uma sugestão clara: na maior parte das empresas com muitos funcionários, os gestores de topo ganham milhares de euros por mês, em rendimento fixo ou acumulado com ajudas de custo. Se a cada gestor que ganha mais de 5 mil euros por mês, retirássemos mil euros, isso daria para aumentar para 500 o salário mínimo a 48 trabalhadores, sem mexer na economia da empresa. Se houver gente a ganhar 10 mil euros e se cortar 2 mil euros, são quase 100 os trabalhadores dessa mesma empresa que passam a ganhar o salário mínimo acordado pelos patrões, sendo que o gestor que ganhava 10 mil euros consegue viver muito bem com 8 mil.

A nossa sociedade criou, ao longo da sua história, uma dependência global do dinheiro. Cada um de nós desempenha uma tarefa e depende dos serviços dos outros para fazer as outras. Esses serviços, pagos por troca directa de serviços nos tempos idos, passaram a ser pagos em moeda, dando origem a uma dependência monetária que obriga à existência do dinheiro para garantir uma vida de qualidade. Só temos uma sociedade a funcionar se as pessoas que nela vivem puderem gastar dinheiro em troca por serviços. Sem dinheiro, não há economia nem sociedade. Por esta lógica, é impossível que o corte de salários seja uma via para a reabilitação da economia. Só reabilitamos a economia se as pessoas tiverem dinheiro para gastar nessa mesma economia, portanto o corte de salários da generalidade dos trabalhadores nunca pode ser uma solução viável, principalmente quando não se tentaram outras áreas, como o corte da despesa supérflua ou dos benefícios dos gestores.

Mas para isso era preciso ter tomates e agitar os poderes instalados. E tomates é coisa que parece haver em pouco número na Assembleia da República ou nas grandes empresas...

PS - Entretanto, saiu o resultado da reunião da Concertação Social. Aumenta-se 10 euros em Janeiro e far-se-ão duas avaliações, em Maio e Setembro, com a intenção de ter subidas graduais e de, em Outubro, o salário estar nos 500€. Atentem às palavras, que são importantes. "Intenção de" não é o mesmo de "fixar o salário em". Aliás, mesmo que fosse, em 2006 eles garantiram, e assinaram, o que este ano se preparam para não cumprir. É esta impunidade que me deixa parvo, pode fazer-se tudo neste país...

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