quarta-feira, 3 de novembro de 2010

Subo as escadas para o andar superior do comboio e encontro-os sempre sentados a dormitar. Ela descansa a cabeça no ombro dele, e ele descansa a sua sobre a cabeça dela. E ali vão, a dormitar. Depois de sairmos de Campolide, acordam, primeiro ele e depois ela, e regressam a este mundo real. Não falam, mas o amor e o sentimento são passados no toque dele para a acordar, e no sorriso estremunhado dela para ele quando o comboio começa a parar em Sete Rios. Despedem-se com um beijo e ela sai, deixando-o a olhar pela janela do comboio como se fosse a última vez que a veria. Ela olha de volta, e despede-se com um acenar da mão.
Dali até Roma-Areeiro, quando sai, ele continua a fixar a janela, perdido em pensamentos que, imagino, voltem sempre à estação de Sete-Rios e à despedida da sua amada. Mas não é um adeus definitivo, pois chego no dia seguinte, e lá estão os dois, a dormitar, a acordar, a despedir-se e ele a fixar um ponto do horizonte até que chega a sua vez de deixar o comboio que o afastou da sua amada e o leva a um mundo onde ele passa o tempo sozinho e de olhar fixo num ponto da janela, aguardando o momento em que volta a fixar aquela estação e volta a ver o rosto daquela a quem ama.

(Sim, as viagens de comboio pela ponte dão para tudo, mas só de manhã, que à tarde é um instante enquanto adormeço e não vejo mais nada até chegar ao Pragal… :) )

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