quarta-feira, 28 de julho de 2010

Eu tive a sorte de poder assistir à entrevista toda do D. Carlos Azevedo na SIC Notícias há uns dias atrás. Digo sorte, porque, se fosse apenas ouvir o que a comunicação social extraiu da conversa, ficaria muito mal informado. Ele falou muito mais do que aquilo que saiu, e muito mais do que os comentadores políticos, de tão especialistas, quiseram extrair.

D. Carlos falou da necessidade da sociedade se reorganizar, de patrões e empregados trabalharem juntos para combater a crise, de acabar com as explorações dos empregadores e com o ócio dos empregados, de ser obsceno que seja permitido que as instituições de crédito continuem a fazer publicidade a incentivar o crédito quando a situação está tão grave, que era tarefa de todos, mas em particular dos católicos, de intervir na sociedade. Aliás, aqui até disse que era pecado não intervir, o que deixou o Mário Crespo de boca aberta.

O Mário Crespo tentou associar o discurso dele a uma ideologia política, mas ele esteve muito bem e respondeu que não interessa a ideologia do católico, interessa que participe, seja por que partido for, desde que seja de acordo com os seus valores. Enfim, falou e falou e falou sobre uma série de coisas importantes que, no final, se resumiram à sugestão de os políticos católicos doarem 20% do seu ordenado para um fundo social, a única coisa que praticamente todos decoraram.

Há quem tenha vindo, depois, falar em dízimo, a tal contribuiçao obrigatória que outras religiões têm. Nunca isso foi falado, mas insistiram logo em puxar esse assunto, quando o D. arlos nunca sugeriu que isto fosse uma obrigação imposta pela Igreja, que é isso que é o dízimo. Isto seria uma opção de cada um, não uma obrigação.

Muitos vieram a terreiro considerar a proposta demagógica e populista, por ter pouco impacto prático na vida das pessoas. Ora é logo por aqui que a coisa não pega: se tivermos em conta que um deputado ganha qualquer coisa como 3800 euros por mês, e que o Presidente da República ganha 7 mil e o Primeiro ministro 5300, e tendo em conta que há 230 deputados na assembleia (nem todos católcios, claro), imaginemos o que seria se todos o fizessem: numa estimativa por alto, todos os meses o fundo recebia cerca de 180 mil euros, números por alto. 180 mil euros daria muito jeito a muitas IPSS, digo-vos eu. Não daria para todas? Claro que não, mas dava para algumas, e que jeito lhes dava. Agora juntemos-lhe, por exemplo, e acho que o D. CArlos só pecou na entrevista por falta de ambição nessa proposta, o vencimento dos gestores de topo das principais empresas portuguesas. Secalhar tinhamos mais outro tanto ou até mais, não? E isto não dava jeito às IPSS? Onde é que está a parte que diz que isto são valores pequenos e insignificantes? 400 mil euros todos os meses seriam 4,8 milhões de euros ao final do ano, só assim de cabeça...

Também ouvi dizer que os deputados precisam de conseguir viver e sustentar a sua família. Ora os deputados que ganham 3800 euros por mês ficariam com 3000 euros por mês para viverem. Coitados, que dificuldade que seria para eles, viverem com tão pouco, né? Ah, e sem esquecer que muitos recebem pensões, reformas e outros tachos que tal, mesmo quando deixam a Assembleia, o que faz com que recebam muito mais que isto. Dizer que teriam dificuldades em viver é insultar todos os que vivem com os tais 700, ou 800 euros por mês, quando conseguem tanto...

Demagogia e populismo é exigir sacrifícios a quem já é sacrificado pelas políticas pouco amigas do povo. Tenham a coragem de falar abertamente e de explicar tudo certo, como fez o D. Carlos Azevedo, e será muito mais difícil encobrir certas questões. É só fazer as contas, meus amigos. Elas estão disponíveis para quem tenha a coragem de as fazer...

1 comentário:

Anónimo disse...

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