quarta-feira, 13 de maio de 2009

A propósito desta notícia do Público sobre o Magalhães e os riscos das crianças contrairem miopia mais cedo (um alerta que me parece muito válido e não propriamente embirração com o governo, como alguns dizem) veio-me à memória o filme Wall-E, que há pouco tempo esteve nos cinemas portugueses, e a imagem que faz da humanidade, 700 anos de de estarem a viver numa nave espacial que lhes faz tudo.

O ser humano caminha, como sempre caminhou, para uma transformação do seu corpo, que se vai adaptando à realidade que encontra. Por isso hoje em dia não se encontra utilidade conhecida nos dentes do siso ou no apêndice e se advoga que dentro em breve poderão começar a nascer pessoas sem estes elementos. Isto é inegável e não me parece problemático. No entanto, a maior comodidade que todos os dias vivemos também acarreta consequências que já não são assim tão positivas. Corremos o risco de começar a nascer já a precisar de óculos, em virtude da utilização que fazemos de computadores, televisores, etc.

Quem se recorda do filme lembra-se que os seres humanos que vivam na nave espacial faziam tudo deslocando-se em cima de chaise-longues que lhes faziam tudo e alimentando-se de batidos que tinham todas as proteínas e que eram a única alimentação que tomavam. O resultado era que todos os humanos eram extremamente obesos e tinham até começado a perder o conhecimento sobre o que era.... andar. Esse acto que hoje todos assumimos como inato tinha-se começado a perder, tudo porque não precisavam de o fazer.

Sto Inácio afirmava, na introdução dos seus Exercícios Espirituais, que os bens terrenos deveriam ser utilizados q.b., sem exageros, sob pena de nos deixarmos levar por caminhos que não iriam conduzir à felicidade. Ele falava por certo de outros caminhos mais pecaminosos, mas o conselho serve também para quem faz do estar sentado no sofá todo o dia rodeado de máquinas que lhe fazem tudo um hábito ou quem permite que os seus filhos façam uma utilização intensiva e exagerada dos televisores e/ou computadores, Magalhães ou não.

Ninguém está contra o progresso, e não sou eu que acho que na Idade da Pedra, em que os maridos batiam com as mocas na cabeça da mulher com quem queriam procriar, é que se vivia bem. No entanto, nem tanto ao mar nem tanto à terra. Os habitantes da Tera, no Wall-E, tiveram de deixar o planeta e contentaram-se em viver numa nave que lhes fazia tudo e que, eventualmente, ganhou esperteza e quis impedi-los de voltarem à vida que tinham.

É preciso que os pais percebam que PSPs, Magalhães, portáteis, PS3, Wii, Xbox, Buzz, Killzone, e por aí adiante, são tudo instrumentos úteis e que podem cumprir a sua função de entretenimento com muita qualidade, mas que não podem servir de única interacção das crianças e das pessoas com o ambiente. Não existe solução fácil, bem sei, porque os miudos não têm noção disto e são eles próprios a promover os exageros, mas é preciso travar esses hábitos e reciclar velhas ocupações, que não sejam tão prejudiciais ao físico das crianças, que se tornam mais obesas e com maiores problemas de visão, e lhes permitam um crescimento sustentado e bem feito.

Já achei o cenário do Wall-E mais irreal, se querem que vos diga... Já estou à espera da invenção do ano: óculos para recém-nascidos :)

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