Páscoa

A Páscoa é sempre uma época complicada para mim: é de uma importância tão grande que me encontro sempre dividido entre o serviço à paróquia na animação das celebrações e a necessidade de reflexão e isolamento que esta semana proporciona. Procuro um espaço de reflexão que me permita interiorizar o acto de amor que Jesus teve por nós, enquanto ando atarefado entre celebrações e outros entretenimentos que se vão colocando à minha volta, e que por vezes me distraem de uma reflexão mais cuidada. Não tenho grande volta a dar, pois sair da paróquia seria falhar com o compromisso de serviço que assumi perante as outras pessoas.

Assim, dou por mim a agarrar pequenos momentos para reflectir um pouco sobre tudo isto.

No Domingo de Páscoa, a RTP transmitiu, pela enésima vez, o grande filme "Ben-Hur", uma mega produção vencedora de inúmeros óscares. Nunca vi o filme por inteiro, e este domingo não foi excepção. Porém, apanhei a parte final, quando o Ben-Hur observa, horrorizado, a crucificação de Jesus, acompanhado pelo Rei Mago Baltazar. Ouço-o perguntar, incrédulo, a Baltazar: "Mas será mesmo necessário um homem passar por tudo isto?", ao que Baltazar responde que sim, pois carrega sobre Ele todos os pecados do Mundo. Dei por mim a pensar na resposta que eu daria a Ben-Hur: é preciso, sim, porque nós o exigimos. É por nossa culpa que Jesus passou por tudo aquilo, não porque Ele tinha esse divino mandamento, ou porque Deus "programou" para que tudo acontecesse assim, mas porque nós O obrigámos a passar por tudo aquilo. Se nós tivéssemos acreditado nas palavras d'Ele, se tivéssemos alterado a nossa maneira de agir só pelas palavras que Ele dizia, tudo teria sido diferente. Mas não, nós não acreditámos n'Ele, nós não o seguimos. Pelo contrário, quisemos afastá-lo porque não queriamos mudar a nossa forma de estar, a nossa forma de agir. Foi preciso obrigá-l'O a dar-nos o exemplo de amor máximo para que o olhássemos de outra forma, conforme exclamou o soldado quando O viu morrer: "Este era, de facto, o Filho de Deus". Só aí começámos a perceber, e só 3 dias depois depois se fez luz sobre o nosso espírito. Porque não soubemos segui-l'O, porque não O soubemos amar.

Que parvos que fomos, e que parvos continuamos a ser hoje em dia quando não fazemos ao próximo o mesmo que Ele fez por nós, quando preferimos olhar para o outro lado e ignorar quem sofre.
Como diriam os meus lobitos, "Dâh!!!"....