terça-feira, 20 de agosto de 2013

 © Foto Fundação AIS

É possível que nem todos estejam ao corrente do que se passa no Egipto neste momento. Com mais um presidente deposto, a tensão, os conflitos e as mortes sucedem-se em catadupa. Um dos aspetos menos abordados pela comunicação social é a situação da Igreja e os conflitos. Nos últimos tempos, arderam mais de 49 igrejas cristãs, entre ortodoxas, católicas e protestantes, e os cristãos não saem à rua com medo da violência. Os fundamentalistas muçulmanos estão a aproveitar a crise política para dizimar a minoria cristã no país, e ninguém se parece importar com isso. Têm sido, segundo os relatos que vão chegando, os próprios muçulmanos a impedir males ainda maiores. Sim, porque como em toda a história, os cobardes que usam a religião como desculpa para a violência são sempre uma minoria. O problema é que são sempre esses grupos minoritários quem está no poder e quem executa essas atrocidades. Aconteceu em todas as religiões, e está a acontecer na religião muçulmana agora.

Tudo começou no dia 14 de agosto, quando o exército egípcio e a polícia utilizaram bulldozers e gás pimenta para acabar com os acampamentos dos apoiantes do presidente Morsi, que tinha sido obrigado a demitir-se no final de julho. Moris era apoiado pela Irmandade Muçulmana, que por sua vez acusou as comunidades cristãs de serem as responsáveis pelo afastamento do presidente. Neste sentido, desencadearam-se nos últimos dias uma série de ataques a igrejas, escolas e conventos cristãos, com a justificação (desculpa?) de que os cristãos teriam sido contra Morsi. O Patriarca copta católico Ibrahim Sedrak afirmou à agência de notícias do Vaticano que "isto não é uma luta política entre diferente fações, mas uma guerra contra o terrorismo". Apesar disto, existem relatos de grupos de muçulmanos que rodeiam igrejas cristãs, evitando que sejam destruídas, e que acolhem vizinhos cristãos e os protegem dos ataques, o que mostra que a convivência entre as diferentes religiões não só é possível, como é desejada por pessoas de ambas as religiões.

Com a globalização, a entrada de estrangeiros nos países muçulmanos provocou uma diversidade cultural e religiosa com a qual estes fundamentalistas não estão a saber lidar. Não se importam que isso aconteça nos países onde é o Islão a entrar, mas não suportam que isso aconteça onde são maioria. É triste observar que a coisa mais maravilhosa do mundo, o amor entre todos, esteja a ser destruído usando como razão questões religiosas, quando é a religião, e todas as principais o fazem, a primeira que aponta para a necessidade de nos amarmos uns aos outros.

A luta pela democracia no Egito, depois da Primavera Árabe, um movimento do povo que rapidamente foi aniquilado pela corrupção e pelos interesses económicos, tem conhecido vários sobressaltos, e rapidamente deixou de ser um movimento genuíno do povo (se alguma vez o terá sido apenas o futuro o dirá) para se transformar num golpe perpetrado por uma minoria corrupta que quer tudo menos servir o povo que supostamente deveria servir.

A comunidade internacional, que anda mais ocupada a recusar moedas de euro com a figura de Cristo, não parece importar-se muito com esta escalada de violência e está mais naquela de "matem-se todos e depois nós intervimos no fim para apanhar os cacos". A vantagem disto é que sobram menos para combater e controlar. A parte horrível é que homens, mulheres e crianças são assassinadas apenas porque acreditam em algo diferente daquela que era "suposto" acreditarem...

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