quarta-feira, 20 de maio de 2009

O Governo quer obrigar todos os alunos a terem aulas de educação sexual, e não permite que nenhum pai faça objecção de consciência e impeça o seu filho de frequentar essa disciplina.

Lamento dizer, Srs membros do Governo, e sei que todos vocês lêem este blogue (ou então não...), mas acho a medida errada. Quanto a mim, criar esta disciplina na escola é, à partida, passar um atestado de incompetência a todos os pais do nosso país. As crianças precisam de ir à escola porque os pais não detêm todo o conhecimento. Até aí, tudo bem. Ninguém espera que um casal possua todos os conhecimentos de matemática, ciências, história, filosofia, português, etc, que permitam à criança crescer conhecedora destas realidades. Aliás, a ida à escola tem também a vantagem da socialização e do convívio salutar com outras crianças.

No entanto, não estarão os pais suficientemente informados sobre sexo para saberem aconselhar os seus filhos? É que, para terem filhos, à partida a coisa teve de acontecer, né? Homem, mulher, velas, lençois de seda, 9 meses....... e pum, apareceu um filho.

Incluir uma disciplina deste género na escola é, desde logo, presumir que a temática do sexo e das relações sexuais deve ser tratada da mesma forma fria e analítica que é tratada a história universal, a matemática, os verbos ou os ditados, e isto não é verdade. Cada pessoa tem a sua sensibilidade sobre o assunto, e as coisas não são, neste caso, pretas e brancas. Há por aqui muitos cinzentos, que esta legislação se vai encarregar de apagar por completo.

É muito bom as crianças saberem que o pénis entra na vagina, e que daí se fertiliza o óvulo, e que com o preservativo e a pílula podem fazer sexo à maluca que não acontece nada, mas quem é que lhes vai falar sobre os relacionamentos, sobre a fidelidade, sobre a promiscuidade, sobre o amor, assuntos tão delicados e sensíveis que é impossível serem abordados numa turma de 30 miudos, que na pior das hipóteses apenas vão gozar com eles?

Terão os professores destas disciplinas formação específica nesta área, ou terão eles a mesma sensibilidade da professora cuja aula de História foi gravada por uma aluna recentemente?

Infelizmente, eu concordo com o Governo numa coisa: vejo cada vez mais pais incapazes de educar os seus filhos. Mas será que a solução passa por desresponsabilizá-los dessa tarefa ou passar por lhes dar condições para que possam executá-la com mais condições? Passa por procurar dar condições aos pais para que passem mais tempo com os filhos, para que os possam educar da forma mais correcta. Afinal, criar um filho não dura apenas 9 meses de gravidez e 2 anos de fraldas, é muito mais do que isso...

E aqueles pais que até são conscientes, e que até educam os seus filhos bem e a um ritmo próprio (e eu quero acreditar que não são assim tão poucos), têm eles que dar ao seu filho a mesma educação sexual que os pais que se estão pouco marimbado para a coisa? Porquê?

Educação Sexual nas escolas até pode ser uma necessidade, apesar de eu não concordar com o princípio que ela acarreta de desresponsabilizar os pais dessa tarefa. Mas obrigar todos os miudos a frequentar a disciplina parece-me, no mínimo, indecente, para não dizer castrador dos direitos de cada pai educar o seu filho da maneira que acha mais conveniente.

8 comentários:

Carolina disse...

É certo que cabe, principalmente, aos pais a educação sexual dos seus filhos e que não lhes deveria ser retirado o direito de escolher se querem ou não que os seus filhos assistam a tais aulas. Isso era tudo muito bonito se não vivêssemos em Portugal. Isto, pois cá, apesar de haver muito bom pai a dar educação fabulosa aos seus filhos, uma grande parte não a consegue dar, porque também não a tem. Muitas crianças, mesmo muitas, têm famílias problemáticas. Que exemplo ou boa educação podem essas famílias dar? Famílias essas com pais bêbedos em casa, pais divorciados que levam para casa, todas as semanas, um companheiro diferente, pais que têm 15 anos a mais que os filhos, e eles próprios não têm consciência das acções.
Para além disso, a criança pode ter uma visão diferente da dos pais. Se estes, por exemplo, forem extremamente religiosos, de certo que iriam negar as aulas à criança. Mas e se ela sentisse que precisava de ter essas aulas? E se fosse ela p´ropria que as quisesse ter? Não pode a criança ter vontade própria enquanto viver debaixo do tecto dos pais?!

Apesar desta opinião, sou contra a distribuição de preservativos e pílulas do dia seguinte. Uma coisa são aulas sobre a temática e, sinceramente, se for mesmo assim implantado, creio que vão falar de questões de promiscuidade, amor, fidelidade e tudo isso. Até porque isso já acontece em acções de formação sexual (que, pelo menos na minha escola, acontecem todos os anos às turmas do 10º), pois eles certificam-se bem de abordar esses temas e a importência deles em relação à sexualidade. Agora, outra coisa completamente diferente, é começar por aí a distribuir contraceptivos à maluca. Com isso, por mais que digam que "Ninguém tem relações só por ter preservativo", as coisas não são bem assim, uma vez que, muitas dessas crianças com fraca educação, vão ver essas distribuição como um incentivo, ou vão começar a pensar que têm de o fazer.
Mas pronto, são opiniões...

Um pai que não sabe o que faz disse...

Aliás, noutros países foi exactamente isso que aconteceu. Os números não diminuiram, aumentaram.

Carolina, acha sinceramente que é possível falar de promiscuidade, amor, fidelidade, etc, em turmas de 30 alunos? Eu acho muito difícil que os alunos possam tirar as suas duvidas ali, em frente de toda a aula...

Eu sou uma pessoa religiosa, mas também digo que se houver pais tão religiosos que não conseguem perceber as necessidades dos seus filhos, também esses não estão a fazer um bom trabalho...

Eu sei que há pais incapazes. Mas volto a dizer: a solução é tirar-lhes essa responsabildiade das mãos? Para que possam irresponsáveis com uma justificação?

Carolina disse...

Muito sinceramente? Acho. E acho porque já o vi. Mesmo que uns não se sintam tão à vontade para falar, para tirar dúvidas, há sempre uns mais desbocados que começam a falar e a perguntar, e a pergunta de uns poderá ser a pergunta de outros. Tudo depende muito da pessoa que estiver a dar a aula. E claro, dos alunos. Mas creio ser possível.
E também penso que não será o correcto tirar essa responsabilidade aos pais, mas sim moderá-la com a escola. Até pode promover uma melhor conversa sobre o assunto em famíla porque a criança já se sente com outro 'à vontade'.

"Eu sou uma pessoa religiosa, mas também digo que se houver pais tão religiosos que não conseguem perceber as necessidades dos seus filhos, também esses não estão a fazer um bom trabalho..."
A verdade é que há pais assim. Que não conseguem ver as necessidades dos seus filhos por detrás dos seus preconceitos. assim, relamente, não estão a fazer um bom trabalho. E alguém tem de o fazer.

(Quando falei de preconceitos, não quero implicar que qualquer pesso areligiosa tem preconceitos, nada disso. Simplesmente que há casos extremos, em que preconceito é mesmo a palavra a ser aplicada)

Um pai que não sabe o que faz disse...

Os preconceitos existem, como é claro, em pessoas religiosas e em pessoas não religiosas. Aliás, não é sequer uma questão de religião, mas do hábito de presumir conehcer coisas sem as conhecer de facto.

Eu trabalho com jovens, fora do ambiente escolar, e nesse ambiente sei que tipo de conversas posso ter com eles. Agora em ambiente escolar não conheço, mas sei que não pode ser qualquer professor a dar uma disciplina como aquelas.

É preciso uma preparação específica, uma humanidade definida, uma sensibilidade acima do normal professor de Matemática ou Português (sem desprimor para estes ou para a sensibilidade que também eles precisam de ter no seu dia-a-dia escolar), e preocupa-me o facto de andarmos a discutir se vamos tornar ou não orbigatório uma disciplina antes de sabermos que tipo de perfis de professores vamos ter a leccionar estas matérias, ou que tipo de matérias vão ser leccionadas. Isto sim, deveria estar a ser falado e discutido por todos, para maior conhecimento. Infelizmente, será algo que nunca será abordado a não ser quando começarmos a ver os resultados da coisa, bons ou maus...

Carolina disse...

Aí, concordo plenamente. Não é qualquer professor que tem aptência para dar uma aula assim. E mais do que a aprovação, ou não aprovação, desta lei, deveria ser discutida a formação dos professores para essa disciplina, os temas a abordar. Porque aulas de educação sexual para durarem um ano lectivo deve ter ainda muito tema para falar.
Em ambiente escolar, as conversas a ter, como já referi, dependem muito do professor e da turma. No meu caso, conheço professores, de português, biologia, matemática, educação física, que têm uma óptima relação com os alunos, uma relação aberta. Esses, se tivessem que dar aulas de educação sexual, sei que conseguiriam e conseguiriam, também, cativar os alunos. Mas também conheço outros que não, tal como casos de professores em escolas públicas que chegam 20 minutos atrasados às aulas, bêbedos, ou que estão, nos portões da escola, a fumar erva com os alunos.

Um pai que não sabe o que faz disse...

Pois é, mas isso nós não ouvimos os nossos estimados governantes falar, ou lançar para a praça pública. Não se vêem estratégias, não se conhecem planos, apenas sabemos que vamos ter educação sexual e que os preservativos vão ser ao pontapé. O resto interessa pouco...

Por isso é que digo que pode ser pior a emenda que o soneto...

Carolina disse...

Pois, aí dou-lhe toda a razão. Só querem mandar novas leis ao ar. Não se preocupam minimamente com o conhecimento da população sobre o assunto. Devia ser discutido tudo isso, mas quê? O objectivo deles é manter o povo na ignorância. Ignorante para que não possa contestar. Mas viva a democracia!

Bé disse...

"É preciso um aldeia inteira para educar uma criança" - provérbio africano :)