terça-feira, 7 de abril de 2009

Apesar de ser o segundo ano que estou como responsável da Alcateia, um grupo de crianças dos 6 aos 10 anos, e de já ter trabalhado antes disso mais 2 anos com eles, continuo a espantar-me e a maravilhar-me cada vez que vamos acampar, pois reconheço em todos os lobitos especificidades únicas que vamos aprendendo a amar e a acarinhar: a força de vontade de meninas como a Patrícia e a Vanessa, que devem medir p aí 1 metro e muito pouca coisa e transportaram às costas mochilas com para aí 70 cm de altura e uns 50 de profundidade, conseguindo não cair muitas vezes, e o entusiasmo de pessoas como o João, que é tão calminho mas quando tem de puxar pela garganta para dar o grito de bando o faz como se possuísse o maior vozeirão do mundo; E que dizer da Rafaela, que tantas vezes parece alheada do grupo, mas nos espanta com a sua atenção, perspicácia e respostas certeiras, quando o assunto pede alguma reflexão e profundidade; Ao mesmo nível só o Francisco, o Daniel (tagarela incontrolável), o João Pedro, o Alexandre e o André, exploradores intrépidos que não descansam enquanto não descobrem todos os cantinhos existentes no local do nosso acampamento ("Aquêlá, já descobrimos 5 caminhos diferentes para chegar ao sítio das tendas", diziam-me, orgulhosos, 30 minutos depois de termos chegado a um sitio onde eles nunca tinham estado); A Joana, que parece estar sempre enjoada com tudo, mas é a primeira a avançar nas brincadeiras e nos jogos que desafiam todos, abrindo um sorriso do tamanho do mundo; a meiguice de meninas como a Joana, a Laura e a Bárbara, que não as impede de se chegarem à frente dos rapazes e de escalarem os mais altos montes primeiro que eles; a personalidade da Sofia, da Beatriz e da Maria, as três estarolas que, sempre juntas, conseguem tanto liderar as arrumações das tendas ou as peças de fogo de conselho como deixar-nos a cabeça em água com os seus desvarios momentâneos; A força física da Catarina, que conseguia chegar a todo o sítio sem nunca estar cansada, sempre pronta para partir de novo; O Miguel e o Bruno, que parece que vivem em mundos diferentes do nosso, mas que descem à terra sempre que é preciso, com uma resposta certa ou um comentário rigoroso, nunca deixando de participar nas actividades; e o Miguel e o Alessandro, que correm sempre em procura de novas brincadeiras, descobrindo tudo o que de bom o escutismo tem para eles. E a Sofia, a nossa maria-rapaz, que tanto se enrosca em nós pedindo carinho como corre primeiro do que todos os rapazes em busca de aventuras. Consigo espantar-me também, é claro, com todos os que conseguem, dia após dia, inventar asneiras novas para fazer, que nos deixam muitas vezes espantados com a sua capacidade “criativa”, e com o facto de a sua roupa desaparecer milagrosamente da sua mochila, para voltar a aparecer quando mandamos procurar a segunda vez. Fenómenos inexplicáveis, mas que já encaramos com normalidade e tranquilidade. E como não falar do entusiasmo de toda a Alcateia a responder aos gritos de raid, ou às brincadeiras de fogo de conselho? No entanto, acima de tudo o que me deixa maravilhado é a opinião das pessoas que se cruzam com a nossa Alcateia. Seja no campo, seja na cidade, o comportamento exemplar da nossa Alcateia e a sua prontidão em obedecer aos chefes quando chamados a tal impressiona todos quantos passam por nós. Dizem que já não se fazem jovens assim, simpáticos e bem comportados, mas esta Alcateia é a prova de que eles existem e que podem ser encontrados, assim se queira trabalhar para esse futuro. E não há maior recompensa para uns chefes babados como nós somos que é o de saber que estamos a fazer a nossa parte na preparação destas crianças para um futuro onde elas poderão fazer a diferença na sociedade em que vivemos.
Toda esta divagação surge porque acabei de vir da Caçada de Páscoa com a Alcateia. Estivemos durante 3 dias à procura do Professor Girassol, amigo do Tintim, pela cidade do Porto. Estivemos quase a encontrá-lo, mas ele foi raptado e levado para outro local, pelo que no Verão iremos continuar a procurá-lo, a ver se salvamos o senhor. A Caçada foi fantástica, uma actividade para recordar por muito tempo por todos. Comemos Francesinhas, subimos aos Clérigos (mesmo os que tinham algum medo das alturas resolveram combater esse medo e subiram o mais alto que conseguiram), passámos a ponte D. Luis a pé no tabuleiro superior, fomos à Sé, à Igreja de S. Francisco, à estação de S. Bento, ao café Majestic, ao Mercado do Bolhão, à Ribeira e ao Palácio de Cristal, onde se cantaram os parabéns à Bia Dupont e à Sofia Dupond, as duas aniversariantes. Do local, tudo de bom a dizer: a Casa Juvenil S. João Bosco é um sonho para qualquer grupo de escuteiros: espaçosa, com todas as condições, barata e com a D. Manuela à cabeça, uma jóia de pessoa que nos ajudou imenso e tudo fez para tornar a nossa estadia ali agradável. E se conseguiu… Brincámos, corremos, gritámos, jogámos, passeámos, partilhámos, rezámos. Dos momentos divertidos, ficam as gargalhadas, as brincadeiras e as correrias. Dos momentos sérios, ficam as opiniões, as partilhas, as lições a levar para a nossa vida. Porque, tal como na nossa vida, também o escutismo é feito de coisas sérias e divertidas, ambas essenciais para um crescimento saudável e perfeito.
Finalmente, o maior motivo de orgulho para a Alcateia: esta actividade foi verdadeiramente deles, uma vez que apenas foi possível de realizar por causa do trabalho de angariação de fundos que eles foram tendo ao longo do ano. O dinheiro que os pais pagaram para os filhos irem à actividade nem chegava para pagar os transportes da ida, quanto mais o regresso, a estadia, a alimentação e as actividades. Foram eles que angariaram o dinheiro que precisavam, e por isso podem dizer com propriedade que esta foi a SUA actividade. A capacidade dos grupos serem autónomos e conseguirem angariar o dinheiro para as suas próprias actividades através do seu trabalho é um dos pilares em que assenta o sistema de patrulhas, base do escutismo, e é isso que nos diferencia (para melhor, permitam-me a parcialidade) dos grupos de amigos que vão para colónias de férias, para passeios de fim-de-semana e para outras actividades muito divertidas, mas onde não são eles a planeá-las nem são eles a assegurar a sua viabilidade financeira. Querem ensinar as crianças a gerir o seu próprio dinheiro, a terem responsabilidades financeiras desde pequenos? Ponham os olhos no escutismo e no trabalho que realizamos há mais de 100 anos com jovens, que a resposta está à vista de todos.


Como costumamos dizer sempre… A Alcateia é a melhor, estamos todos na maior!

PS - Prometo fotos em breve, mas como estava inspirado para escrever, fica já aqui a crónica, as fotos virão depois.

2 comentários:

Anónimo disse...

Pois é filho, vives tudo isto como se ainda estivesses na alcateia, também eu recordo como se fosse hoje e graças a Deus já lá vão alguns anos.

Anónimo disse...

Muita inspiração e puro altruísmo!

Uns prometem e cumprem, outros.... não conseguem :)

Mas, não é isso mesmo que é ViVer!?