sábado, 27 de dezembro de 2008

Dia 3: Pico Cabronero e Gin Tónico (total caminhado: 7 kms em 90 minutos, com 3h30 de pausas durante o percurso gastos em descanso e fotografia)
Antes de nos deitarmos, no dia anterior, o MEO comandante tinha deixado o aviso: este ia ser o dia mais complicado, e corríamos o risco de nem o poder fazer, como tinha acontecido ao grupo da semana anterior, por excesso de neve nos caminhos. No entanto, os receios de mau tempo foram desmistificados com o primeiro olhar pela janela: não havia um sol brilhante, mas, a espaços, conseguíamos ver céu azul, ao contrário do dia anterior. Razão mais do que suficiente para termos partido com outro ânimo para o percurso.
A viagem até Soto de Sajambre (30 kms), a aldeia que marcava o início do percurso, foi feita aos solavancos… isto porque em todas as curvas que passávamos, alguém dizia “foto de grupo, foto de grupo”. E o MEO comandante lá aterrava a nave e saíamos todos para fotografar, aproveitando o sol e o céu azul que não tínhamos tido no dia anterior.


Com tanta foto de grupo (as máquinas do Pedro e do Orlando tiravam tantas fotos seguidas que dava quase para fazer um filme mudo com os fotogramas), foi quase à hora de almoço que iniciámos a subida, de mochila às costas, bastões na mão (quem os tinha, pelo menos), gorros na cabeça, luvas na mão e polainas nos pés.
O início do percurso estava cheio de lama, em virtude de ser um caminho utilizado por animais e carroças e de a neve ter já derretido. Lama e outros objectos com a mesma textura mas diferente proveniência, que procurávamos evitar aqui e ali, com medo de sujar as polainas e as botas (acto desnecessário, como verão à frente, mas era o início do percurso, logo todos andávamos cheios de cuidados). À medida que subíamos, aumentava a neve no caminho e aumentava as vezes em que nos enterrávamos até ao joelho inesperadamente. O que também aumentavam eram os motivos fotográficos, que nos faziam parar após cada curva que fazíamos. As pequenas cascatas que encontrávamos foram óptimas para treinar arrastamentos e congelamentos (eu que o diga, já que numa das minhas fotos consegui congelar um reflexo do Orlando…… numa gota de água), pelo que andámos entretidos e nem demos pela dificuldade da subida.


Nunca tinha andado em neve, e por isso todo este processo foi muito novo para mim. Andar completamente enterrado até aos joelhos, ou de repente cair em buracos tapados pela neve foi uma nova e divertida experiência, que originou algumas gargalhadas bem sonoras e, felizmente, nenhuma lesão em nenhum dos participantes.
A certa altura, deixou quase de haver erva ao meu lado, pelo que apenas o branco da neve se destacava na caminhada, aqui e ali interrompido por uma árvore ou pedregulho que ainda ousavam combater o manto branco que se tinha apoderado da montanha. Com o aumento da altitude, começou a ser mais frequente o andarmos com neve até aos joelhos, e de vez em quando até mesmo à cintura, principalmente para quem era mais pequena.



A paisagem, já de si bonita, tornou-se arrebatadora ao chegarmos ao cimo, e nem sequer estávamos a uma grande altitude. No entanto, como era o mais alto que havia pelas redondezas, era como se estivesse no topo do mundo, pelo menos fotograficamente falando, já que as imagens captadas, pese embora as nuvens não permitissem grandes cores, foram muito bonitas.
Depois de algum descanso e de comermos o resto do almoço, que já tinha começado a ser devorado a meio do caminho, iniciámos mais uma ronda de…….. fotografias de grupo, claro está. A meio disso, o telefonema para casa. É que, mesmo a quase 2 mil metros de altura, havia rede de telemóvel, e não resisti a telefonar para casa a dizer onde estava.


Terminámos com uma infindável sessão fotográfica onde fizemos as mais variadas maluqueiras, que passavam muito por conseguir um efeito de estarmos a escalar a montanha mais inclinada, apesar de estarmos numa zona plana. Os resultados, esses, foram fantásticos, claro, como podem admirar. Neste caso, o MEO comandante sobe a uma montanha cada vez mais inclinada... ou então não! :)


A descida foi, como o MEO comandante já tinha frisado, a parte mais rápida e divertida. Hilariante foi a primeira parte, em que descíamos a uma grande velocidade, em linha, e de repente algum de nós se afundava para voltar logo a seguir a subir. Parecia que fazíamos aquela coreografia em que as pessoas em linha se vaõ baixando, uma de cada vez, intercalado com quem está em pé, mas tudo em movimento e sem qualquer controle da nossa parte. Muito, muito divertido mesmo… Depois, em vez de seguirmos pelos trilhos já marcados, começámos a cortar caminhos, descendo encostas aos saltos que nem loucos, ou escorregando encosta abaixo, a uma velocidade considerável, tentando não ir contra nenhuma árvore.
Com tanta brincadeira, a noite desceu antes de terminarmos o percurso, e a parte final, com lama e as outras coisas, foi já feita sem vermos onde púnhamos os pés, pisando lama e….. bom, pisando sempre lama, claro.
Ao chegarmos cá abaixo, a primeira parte do grupo, que tinha vindo à frente, já se encontrava confortavelmente sentado numa acolhedora tienda. Acho que a dona do estabelecimento ganhou o dia só com a nossa visita e o consumo de cerveja geladinha acabada de sair da prateleira, sem frigorífico, e vinho quente, uma especialidade da zona.
Com os pés encharcados (no meu caso apenas) e a pedir um banho quente, regressámos ao quentinho da nossa casa em Sobrefoz. O jantar de massa espiral tricolor com frango, courgettes e queijo mozzarella branco, precedido de um gin tónico (até água tónica havia naquela tienda perdida nos Picos da Europa) retemperador, foram o final de dia ideal para acalmar e preparar para o ultimo dia de passeio e fotografia.



Dia 4: Ruta del Cares, Caín e regresso, com jantar em Chaves
O último dia de viagem amanheceu tão cinzento como o segundo dia, e com uma chuvinha desagradável à mistura também.
Arrumámos toda a tralha nas mochilas e preparámo-nos para deixar aquela agradável casinha, pois a viagem daquele dia já só terminaria em casa, 17 horas depois.
Arrancámos para o primeiro destino do dia, Caín e a Garganta del Cares, um percurso todo escavado na pedra que servia de passagem para os mercadores da Idade Média que, com os seus burros, transportavam mercadorias entre o reino de Castela e das Astúrias.
O caminho teve menos paragens para fotos de grupo, porque o tempo também não o permitia. Era preciso chegar rapidamente a Caín, porque o dia iria terminar com a subida do teleférico de Fuente Dé.
No entanto, nenhum teleférico nos faria abandonar o que encontrámos na Ruta del Cares. O desfiladeiro que ia dar a Caín é simplesmente fabuloso, com paredes escarpadas dos dois lados, estreitando a passagem para o rio que, em baixo, corre a uma velocidade furiosa. A estrada que o percorre foi arranjada há pouco tempo e é uma verdadeira obra de engenharia, pois fica também ela suspensa sobre o rio, permitindo assim que dois carros passem um ao lado do outro (bom, mais ou menos…)


Perdemos tempos infindáveis a fotografar o rio, as escarpas, as gotas na fonte que jorrava a meio do percurso, tudo o que nos aparecia pela frente, tantos eram os motivos que justificavam o clique do obturador…
Finalmente, e quando julgava que já tinha visto tudo o que havia para ver, chegamos a Caín, zona onde o desfiladeiro aperta ainda mais e a única forma de caminhar é… por dentro da rocha. Sim, isso mesmo, por dentro da rocha. Antes do século XV, fazendo fé nas informações recolhidas, os mercadores daquela zona, para evitarem uma deslocação de semanas rodeando as montanhas, escavaram uma passagem na rocha de um lado ao outro da montanha. E a paisagem que se nos apresenta é absolutamente deslumbrante. De 10 em 10 metros, abrem-se as paredes dos desfiladeiro e podemos espreitar o rio, 5 ou 6 metros abaixo, que correu furiosamente entre as rochas, depois de sofrer uma queda de água na barragem que funciona mesmo no início do percurso.


Todo o caminho é húmido até dizer chega, pois os salpicos do rio e as inúmeras cascatas que existem ao longo do caminho não permitem fotografias “secas”, mas era impossível não parar e tirar fotos, simplesmente impossível, pelo que deu muito jeito o saquinho de plástico a proteger o material…
Depois deste passeio, que durou uma eternidade, decidimos não ir ao teleférico e perder mais algum tempo ali, já que o tempo estava nublado e a probabilidade de não vermos nada lá em cima era muito grande. Assim, quando arrancámos dali iniciámos directamente a viagem de regresso a casa, não sem antes pararmos para acções mais tradicionais e normais, como as fotos de grupo e de animais (estes fora do grupo, entenda-se), e outras acções mais radicais, como as acelerações por cima de poças de água, tudo em nome dos efeitos fotográficos. Por isso, e para ter a certeza que ficavam bem, marcha-atrás e toca a passar outra vez. Se algum pastor por ali andasse, havia de pensar “estes portugueses estão loucos”!!!
Finalmente colocados na carrinha, iniciámos a viagem de regresso, com direcção a Chaves, onde iríamos jantar. E que belo jantar: alheira de Chaves, postas mirandesas, bacalhau à costa, leite creme caseiro, tudo num local simpatíquissimo, chamado Casa do Costa. Recomendo vivamente a visita…
Depois de tudo, vieram as despedidas. Chegámos às 00h ao Porto, e a Lisboa eram cerca das 3 da manhã. Apesar de não nos conhecermos de lado nenhum, esta actividade que não era para meninos, mas para gente crescida, criou em todos um grande laço de amizade. Tanto que já temos data de reunião marcada para o almoço de convívio e de troca de fotos. Porque a viagem terminou, mas fotos e a amizade ficarão para sempre. Uma palavra de apreço ao nosso MEO comandante, incansável a ceder a todos os nossos caprichos, fossem as fotos em grupo, as acelerações nas poças ou o gin tónico à noitinha…

1 comentário:

Anónimo disse...

As fotos maravilhosas exponenciaram as minhas saudades dos Picos da Europa..
CJusto